segunda-feira, 28 de maio de 2012

Manhã de domingo


Daniela de Faria

A manhã de domingo se transforma com a nossa chegada, o que era tristeza se transforma em alegria, a dor desaparece, o sorriso toma conta dos rostinhos, os tratamentos de saúde passam a fazer efeito mais rápido e a euforia transforma o am­­biente.

Os funcionários do hospital também se alegram e se contagiam. Percebe-se na feição deles. Seja com gestos ou com suas próprias tarefas que são intensas. O contato com as crianças é mágico!

Pacientes que são crianças ou pré-adolescentes que quando nos vêem acordam e saltam das camas e cadeiras para interagir. Em alguns ca­­sos os acompanhantes das crian­­ças também se divertem junto com os pequenos e as gargalhadas ecoam levando o vírus da alegria.

Essa mágica acontece com poucos ingredientes no bolso: amor, alegria, sorriso e felicidade! Estamos vivos e com saúde, podemos proporcionar uma manhã linda para quem está ali passando por um momento tão delicado e, muitas vezes, incompreensível pela pouca idade que têm.

Nesta manhã, minha melhor amiga chamava-se Ellen, de quatro anos. Ellen, tão pequena e tão sincera. Seus olhos eram perfeitos, cor de mel com brilho imensurável, demonstrando uma criança maravilhosa!

Passar algumas horas brincando, montando, pintando, foi um verdadeiro presente! Temos que ter a capacidade de improviso, de­­dicação, criação, habilidade para lidar com emoções que vão da euforia à depressão, com o emocional no caso de rejeição, empatia e muito bom humor. Essas são algumas das características que acontecem durante as atividades do Sonhando Juntos, quando visitamos o hospital, para alegrar até quem não é paciente.

Saímos pela manhã com a certeza de tirar ao menos um sorriso do rosto de cada criança.
Porém, nem sempre é possível. Mas sabemos que somos amados por Deus e queridos por Ele e quando fazemos algo com amor e com o coração, ganhamos não só sorrisos, mas também gargalhadas naquelas poucas horas proporcionadas. Que alegria!

Aquela menina meiga, manhosa, que antes não queria tirar fotos, não saia de perto de seu pai. Já não queria que os 'tios' fossem embora e qualquer brincadeira era motivo de festa e muitos sorrisos.
Voltamos para nossa casa felizes com missão de levar alegria e ver belos sorrisos.

sábado, 19 de maio de 2012

Que gente grande saiba ser criança



Elisa Ramone

Sábado, véspera de dia das mães, nove e meia da manhã. Voluntários aglomeram-se na sala para repassar a atividade do dia: escrever cartinhas em formato de coração e decorar pregadores para dar de presente às mamães. Tudo pronto, que entrem as crianças.

Como de costume, elas entram aos poucos, ainda meio tímidas, e vão ocupando as cadeiras, sentando-se às mesas, tomando a sala que logo será – e todas elas em sua ingenuidade sabem disso – o palco de seu espetáculo, o espaço livre para sua imaginação. A timidez inicial é, na verdade, a expectativa da libertação que elas trazem em si, no ineditismo de seus olhares, mas que só compartilham com quem julgam merecer, com quem aceita também enxergar como elas no mundo conhecido um mundo novo.

Os voluntários provavelmente ainda nem sequer notaram o sopro de fantasia que invadiu a sala no momento em que a porta foi aberta para as crianças. Eles, por estarem muito preocupados com a execução da atividade, ainda não perceberam essa loucura sadia que cada uma delas exala no ar, inconsciente e naturalmente, pela simples atividade biológica de existir. Eles nem mesmo imaginam que estão prestes a ficar saudavelmente loucos também.

Voluntários novos rapidamente quebram o gelo, vencem a inibição e começam a construir seus laços com os pequenos, enquanto os antigos vão refinando as amizades já conhecidas das outras visitas, matando as saudades das crianças e dessa experiência transformadora que, mesmo já vivida outras vezes, parece sempre se renovar de forma diferente. Entre um abraço e outro, entre sorrisos e palavras trocadas, sem que se perceba, os adultos vão se entregando à alegria e à imaginação das crianças, vão se tornando também crianças, abrindo seus olhos de ver, liberando seus ouvidos de escutar e adquirindo uma leveza da qual só se lembravam como uma recordação distante da infância. O contágio é inevitável. A insensatez é irresistível. Aquele sopro fantástico, a essa altura, já virou um vento, invisível e fresco, que percorreu todo o ambiente, despertou a imaginação dos voluntários, ativou a criatividade das crianças e foi misturando as alegrias de cada um em uma única e onipresente brisa de contentamento que envolve tudo naquela sala.

Agora, ao mesmo tempo que dedinhos cheios de cola transformam uma folha branca com formato de coração em um rosto e que florezinhas de borracha viram olhos, nariz e sorriso; outras mãos desenham a caneta os bigodes do gatinho laranja que um dia fora um pregador. Enquanto isso, um pequeno Power Ranger vermelho circula por ali, salvando aqueles poucos que ainda não se renderam à fantasia, trazendo-os para esse universo novo que só as crianças são capazes de desvendar. Do outro lado da sala, um feiticeiro mascarado lança encantos sobre todos que cruzam seu caminho, para que ninguém ouse tentar sair desse mundo mágico.

Daí em diante, tudo é sonho. Homem-aranha e Power Ranger se unem contra um voluntário-gigante em uma luta que termina, como não podia deixar de ser, em abraço triplo. Depois, o pequeno Power Ranger vermelho sobe no voluntário-megazord e sai distribuindo ataques de beijos, salvando o dia na Casa de Apoio. 



Então, o tempo voa na capa dos super-heróis, e a atividade chega ao fim. Voluntários e crianças são agora amigos e cúmplices, porque compartilharam um mundo mágico que ninguém mais conhece e que criaram juntos. As outras pessoas não vão acreditar, vão dizer que isso de magia e mundo encantado não existe, é só brincadeira de criança.  Mas é porque elas ainda não sabem que cada um vive no mundo que cria para si e que é só tirar as vendas dos olhos para enxergar que tudo o que existe pode ser transformado pela forma como decidimos interpretar o que nos cerca.  Essas crianças nos enfeitiçam com a certeza que elas têm de que basta olhar cada coisa como uma descoberta para que tudo a nossa volta se transforme.

sábado, 12 de maio de 2012

Mais que uma atividade, uma mágica



Bruno Victor

Quando me pediram para escrever relatando sobre a atividade de Páscoa do Sonhando Juntos na Casa de Apoio (CACCST) fiquei realmente assustado com a ideia, com a responsabilidade e com quais palavras eu iria descrever uma dinâmica tão indescritível como essa.

Indescritível sim, pois não me basta somente dizer que foi sensacional, maravilhosa... Sinto que falta algo. Talvez a palavra mais adequada a usar seja MÁGICA! Isso mesmo, a atividade teve um ar de mágica, um ar de fantasia, que encanta e conquista, que toca nos corações e nos faz emocionar. No pátio apenas se viam crianças, a grande maioria era criança, e os adultos que ali estavam tinham sua realidade tão sugada pela fascínio das crianças que acabavam virando crianças também!

Esse é um outro grande ponto positivo do Sonhando Juntos: a possibilidade de resgatarmos lá dentro aquela criança que fomos um dia, aquele ser inocente e repleto de felicidades, que  se esquece dos problemas com muito mais facilidade do que nós adultos. Definitivamente, temos muito a aprender com essas crianças!

Copos, pinturas, colas coloridas, sorrisos e corações alegres. Foi simplesmente isso o que consistiu nossa atividade, uma prova de que não precisamos dar um mundo inteiro para fazê-las sorrir e esquecer os problemas, basta apenas darmos o melhor do nosso mundo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Atividade de Páscoa da CACCST


Andressa Franco



Páscoa. Para nós, apenas mais um feriado como tantos outros. Pra eles, alegria. A grande e boa espera do coelhinho que faz com que qualquer criança sinta-se feliz.

Bom, essa espera terminou no sábado (28/04). Depois de toda a atividade, depois de toda descontração, depois de todo breve esquecimento do mundo real, eis que surge o tão esperado coelhinho. A reação não podia deixar de ser diferente. Abraços e carinhos foram trocados, fotos foram tiradas e, o mais importante, sorrisos foram flagrados nos rostinhos de cada criança presente neste dia de festa. Um dia que fez elas se sentirem iguais às outras. Porque sim, estas crianças são diferentes, apesar de parecerem iguais.

No meio de tantas, eu queria escolher uma criança, sentar, conversar, brincar... Mas eram tantas que comecei a ficar perdida.No meio da minha confusão mental, no meu pensamento de “quem eu escolho?”, percebi o óbvio: por que escolher uma, se posso ter todas?

Caminhando entre elas, respondendo suas perguntas “como faz isso mesmo?”, “pode me dar mais uma folha pra desenhar?”,”onde está a minha tia?”.

Onde está a minha tia? Foi essa pergunta que me parou. Daniella foi a menina que a fez. Apenas cinco aninhos, com um semblante triste, nenhum traço de alegria em seu rosto. Suas mãos não desgrudavam das do irmão. Disse a ela que sua tia estaria com ela mais tarde e que naquele momento eu iria ajudá-la a montar o seu porta lápis. Tentei dar ideias, tentei pegar em sua mão pra dar suporte, mas parecia que nada daquilo a deixava animada. Nenhuma palavra era pronunciada por ela. Até que eu falei: “Você pode pintar com o dedo se quiser”. Tudo mudou. Um sorriso prazeroso surgiu em meio a uma grande bagunça de tintas misturadas e dedos sujos. Felicidade tomou conta de mim.
Como pode algo tão simples trazer tanto contentamento?

Olhei ao meu redor e percebi que eu não era a única feliz. Todos os outros voluntários pareciam realmente satisfeitos por estarem ali. As crianças também. Não são apenas as crianças que se desligam de seu mundo real, nós também nos desligamos. E é isso que faz dar certo. É isso que nos dá mais vontade de voltar e brincar mais uma vez, ver sorrisos, ver que a alegria existe apesar das circunstâncias. São nesses encontros que todos nós, crianças e voluntários, mostramos que somos diferentes, apesar de parecermos iguais.