domingo, 30 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012


Voluntários respondem qual foi o momento mais marcante do Sonhando Juntos no ano que passou.


"Dois momentos me marcaram muito em 2012. O primeiro, quando soube da melhora da Lorena. Ela estava realmente muito mal quando realizamos o sonho dela e poucos meses depois ela teve uma melhora impressionante. Nunca vi uma criança sair de um estado de saúde para o outro em tão pouco tempo. Outro momento, esse não foi dos mais felizes, foi quando perdemos o Wallace. Eu era muito apegada e sofri horrores quando ele se foi." - Alice Pereira




"Apesar de todas as partes terem me marcado, tiveram partes especiais, momentos que me fizeram refletir e me tornar um ser humano melhor do que era antes. Da primeira formação, quando fui fisgado pela superempolgação de querer fazer o bem logo, até a última atividade, quando tive a oportunidade de fazer minishow de mágica para as crianças no Hemorio. Me sinto satisfeito, grato e muito feliz por participar do Sonhando, e sei que muito ainda temos pela frente. Muitos sonhos a realizar e muitos espíritos a alegrar e é isso que me incentiva a acordar nas manhãs de sábado e/ou domingo." - Bruno Victor


"Por causa de outros compromissos, este ano acabei ficando afastada das atividades. Estive apenas nos 'bastidores', ajudando com o que pude. E uma situação marcante foi o sonho do João Lucas, que ajudei a organizar e do qual participei com muita emoção. Levar os bombeiros até ele, na cama do hospital, foi ao mesmo tempo uma alegria, por conseguir proporcionar essa realização a ele, mas também uma tristeza, por sabermos o quão grave era o seu quadro de saúde. A morte dele, algumas semanas depois, foi um dos momentos mais difíceis para mim." - Mariana Bueno


"Tive alguns dias marcantes, alguns com alegria e outros com um pouco de tristeza. O que considero bem especial foi o encontro com o Edson, pai do Douglas e do David, na Casa de Apoio, quase um ano após o falecimento do Douglas. Ele me viu, veio até a mim sorrindo, me abraçou agradecendo a realização do sonho, e me disse que o que fizemos ficará para sempre guardado na lembrança e no coração dele e da mãe dos meninos. Quando olhei para o rosto dele, percebi as lágrimas de tristeza pela morte do Douglas, mas também de esperança no futuro do David em relação à doença. Ele me confessou que tem ido ao estádio com o filho sempre que pode, ver jogos do Vasco. Sei que a missão do Sonhando Juntos não é nada fácil, mas cada vez mais tenho a certeza de que é e sempre será recompensadora." - Nilderson Vallim


"Foi muito emocionante retornar ao Sonhando depois de mais de um ano afastado. Fui à formação, que foi muito bacana, e ainda teve uma festinha de fim de ano, onde pude rever antigos colegas e conhecer novos. Fiquei feliz em ver a presença grande de voluntários, pois quando saí éramos pouco mais de 30... E felicidade maior ainda foi quando participei da atividade no Hemorio e a primeira criança que avistei foi um garoto que, coincidentemente, estava lá quando eu tinha ido pela última vez, mais de um ano atrás. Ele não lembrou meu nome, mas me reconheceu. Foi um estímulo grande para em 2013 continuar a participar do projeto." - Douglas Barros


"Foram e ainda são especiais todos os momentos que a gente passa no Sonhando Juntos. Fica até difícil escolher um pra destacar como o mais marcante... queria escolher todos! Teve um em especial que me marcou, no domingo de carnaval, um dia ensolarado, eu e mais três voluntários fizemos a festa, vestindo fantasias e descobrindo sonhos. Sonhos possíveis como o do João, bombeiro, descoberto em um instante! Naquele dia eu tive a certeza de que a vida e as boas ações acontecem dentro de nós mesmos, não importando quantas pessoas lá fora estavam atrás de um bloco carnaval. - Hannah Quaresma



"Um dos momentos mais marcantes pra mim foi o meu primeiro dia no Hemorio. Eu estava ansioso, mas quando chegamos lá a ansiedade acabou. E eu acho que conseguimos fazer uma das melhores visitas do Sonhando. Todos interagiram, inclusive as mães. Pareciam que estavam todos interligados de certa maneira. Foi bem bonito." - Felipe Faria


"Para mim, o momento mais marcante de 2012 foi a atividade no Hemorio do dia 11 de novembro. Foi a primeira vez que fui como líder do grupo. Foi uma atividade marcada por improvisação e muita alegria. Apesar dos imprevistos, conseguimos integrar e interagir com quase todos os pais e crianças presentes no andar. Os voluntários foram muito animados e prestativos. Com certeza foi uma manhã muito especial, não só para as crianças, mas para os pais e nós, voluntários." - Rafael Peclat



"Um dos meus melhores momentos de 2012 foi no Hemorio, quando realizamos o sonho do João Lucas. Foi apaixonante ver a mobilização dos bombeiros e a alegria dele e da família ao receber os presentes e o nosso carinho. Esses momentos fazem todo nosso esforço valer a pena!" - Glória Vallim








E para você, qual foi o momento inesquecível de 2012?



quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A alegria de Sofia


 Ana Carolina Cavalini

No último sábado, confesso que senti uma enorme vontade de continuar dormindo quando o despertador tocou. Felizmente o desejo de estar com as crianças do Hemorio prevaleceu.

No mesmo instante em que entramos na sala de recreação, reparei no olhar doce de uma garotinha um pouco tímida e retraída. Era Sofia. Ela parecia não querer brincar, havia passado por um resfriado recentemente e não estava muito disposta.

Neste momento, vi o desafio do meu dia: conseguir tirar um sorriso daquela menina linda. Aos poucos ela foi se soltando, se interessou pelo meu livrinho da Galinha Pintadinha, pelo quebra-cabeças, e adorei o som da sua voz quando me disse: "Tia, quero brincar de bolinha de sabão!". E foi com uma singela bolinha que ela sorriu pela primeira vez. Pronto! Ganhei o meu dia!

A partir daí, foi uma festa! Sofia quis brincar de massinha e é claro, foram corações, estrelas e luas coladas em nossos rostos. A essa altura a sonhadora Aline já tinha se juntado a nós e não foi difícil ver o interesse de outros sonhadores pelo carisma dessa menininha.

Não consigo descrever a alegria que foi estar naquele dia com nossos amiguinhos do Hemorio. Foi maravilhoso! O mais interessante foi ver que, muito  esperta, Sofia não deixou de perceber meu sotaque paulista e quase no final do dia disse: “Tia, você fala tudo errado! Não é POIRTA!”

Saí de lá com um sorriso de orelha a orelha e dei graças a Deus por ter tido coragem de vencer a preguiça pela manhã. Voltando para casa refleti sobre meu dia e não consegui me lembrar dos motivos que me deixaram chateada, preocupada ou triste durante a semana... Tudo ficou pequeno diante da alegria de Sofia.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Esperança

Felipe Faria


Eu não sei dizer como me sinto quando estou com eles. Dessa vez fiquei com o Pedro Luccas e com a Sofia, os dois estavam bem quietinhos e não muito receptivos no início. Chegamos com calma e conseguimos alguns sorrisos.


Quando voltei para casa, me lembrei do tema principal da ultima formação: Esperança.
O Pedro, num certo momento, estava feliz, porque, como deixou escapar, os médicos o liberaram para poder ir para casa no dia seguinte. Vi a ESPERANÇA nos olhos dele.
Já o caso da Sofia é bem diferente. Ela descobriu dois dias antes que estava com leucemia. Estava triste e quase não sorriu. Até que nós puxamos uma bolinha de sabão e conseguimos distrai-lá bastante. 


O que quero dizer é que são dois pontos de vista diferentes, mas a esperança está nos dois. A Sofia entra numa nova e talvez mais difícil etapa da vida dela, mesmo aos quase quatro anos de idade. Etapa da qual nos faremos parte daqui pra frente, cheios de ESPERANÇA. A mesma ESPERANÇA que eu via no pequeno olhar dela e de sua mãe, a mesma do Pedro Luccas também. E quando pensei nisso, me veio automaticamente na cabeça a pergunta feita na formação: "O que é esperança?". Ninguém soube responder. Nem eu.


Mas depois desse domingo e da história dessas duas crianças, acho que consigo definir mais ou menos o que pode ser...


Esperança é o que nos motiva, é a nossa força, nossa fé. Esperança é um sopro Divino, que diz que vale a pena lutar, seja lá qual for a situação. Esperança é o que torna real aquela frase "NADA É IMPOSSÍVEL" , basta crer. Esperança é a maior comprovação de que Deus existe. Esperança é o brilho no olhar de uma criança que venceu a leucemia. Esperança é o brilho no olhar de outra que acabou de saber que está doente. Esperança é correr atras de seus sonhos. É torná-los reais. Esperança é reencontro. Esperança é vida. Esperança é amar. Esperança é amor. Deus é amor.

A esperança é o que nos move.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um desafio nobre



Daniel Salles


No dia 24/11 participei da minha primeira atividade junto ao Hemorio. 

Ao acordar, confesso que não estava nervoso, pois já realizo atividades como voluntário na Casa de Apoio a Criança com Câncer Santa Teresa (CACCST). Porém, ao subir para a ala de pediatria, meu coração começou a bater forte, pois, a partir daquele momento, percebi que o desafio apesar de nobre, exigia grande responsabilidade. Começou então a surgir um pensamento contínuo em minha cabeça: "Será que conseguirei fazer uma criança sorrir em um ambiente hospitalar?"

No início fiquei olhando o pessoal "veterano" agindo. Aos poucos fui me adaptando e quando percebi estava proporcionando uma grande gargalhada a uma menininha de quatro anos. Isso realmente me emocionou e me deu forças para me soltar de vez e, no momento de encerrar as atividades, acho que fiquei mais triste do que as crianças. 

Concluí que esta experiência que tive veio pra ficar em minha vida. Obrigado ao Sonhando Juntos pela oportunidade. 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

São Paulo e Rio Sonhando Juntos


Larissa Dias Ferreira,
uma sonhadora


Quando crianças, ouvimos constantemente que somos o futuro da nação, que podemos mudar o mundo, que nossas ideias serão revolucionárias e poderemos conquistar tudo o que sonhamos... Ficamos imaginando e planejando uma vida perfeita com uma família feliz, viagens ao redor do mundo, grande carreira, um grande círculo de amigos, casa na praia, carro do ano... Realmente o sonho perfeito! Mas eu descobri mais. Muito mais em relação aos meus sonhos. 

Sonhar não é mais uma fantasia durante as noites ou uma imaginação perdida entre um cochilo ou outro. Eu Sonho Acordada todos os dias, pois tive a grande chance de conhecer crianças que me preenchem de felicidade com cada sorriso, cada abraço ou afago no rosto. Eu compartilho meu tempo, meu amor, minha solidariedade e minha felicidade com cada um deles... Já era apaixonada pelo trabalho do Sonhando Juntos em São Paulo, no último final de semana, pude conhecer e aprender ainda mais na unidade do Rio de Janeiro. 

Fiquei encantada com a timidez e graça de uma menininha muito especial. Foi difícil tirá-la da cama e receber um sorriso... Mas depois, não se continha mais em abraços, brincadeiras, colo, e passeios nos corredores do hospital. Como não se deixar encantar por alguém que te olha pedindo carinho, e desejando apenas um pouco de atenção?! Lalá é uma lutadora, uma menina linda que sorri com os olhos, tímida, carinhosa e maravilhosamente cativante, uma sonhadora que está enfrentando desde pequena os obstáculos para no futuro sonhar mais alto, almejar mais. Talvez nesse futuro ela nem se lembre que um dia teve uma tia que se encantou com seu jeitinho de menina tímida, mas no meu futuro ela fez diferença. As horas que passamos juntas só me fizeram sentir ainda mais confortável com esse trabalho tão lindo, próspero, gratificante e genuíno no qual estou engajada. 

Já bem dizia um autor desconhecido: "O trabalho voluntário não é pago, não porque não vale nada, mas sim porque ele não tem preço". Fazer parte dessa ONG, desse projeto, estar com essas crianças, receber um abraço sincero nada disso tem preço. É o que mais vale na minha vida! Ser uma Sonhadora.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Princesa Raíssa



Felipe Faria

Mais uma manhã incrível na minha vida.

Quem foi que falou que as "princesas encantadas" não existem?!

Essa é a Raíssa, e talvez ela não tenha um castelo, uma carruagem, ou nem mesmo uma sapato de cristal... Mas ela tem um sorriso tão lindo e sincero que trouxe toda paz para o meu coração, um olhar tímido que não consegue conter a alegria de estarmos ali brincando com ela, uma pureza e uma esperança que nos faz acreditar na vida.

Ela é uma princesa mesmo, a verdadeira princesa da vida.

Não reclame da sua vida, faça coisas boas e pro bem. Enquanto várias pessoas jogam suas vidas fora, há tantas outras lutando por uma.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Alegria



Erika Prochet

Era uma manhã de estreia. Estreia das atividades no Hemorio ao sábados.   

Como sempre, senti aquele friozinho na barriga na hora em que estávamos subindo para a pediatria. Quantas crianças teremos hoje? Será que elas estão animadas para brincar? 

Ao chegar à pediatria, seguimos todas as etapas do nosso ritual: cumprimentar as enfermeiras, buscar informações sobre as crianças e lavar as mãos. O próximo passo foi buscar as nossas principais armas: brinquedos, massinha de modelar, bolinha de sabão e o mais querido entre voluntários e crianças, UNO. 

Agora só faltava acordar a criançada. Para mim, a parte mais difícil do dia.

Ao abrir a porta da enfermaria encontramos um clima calmo, sem muito barulho e, estranhamente, até a TV estava desligada. Mas isso não foi o suficiente para atrapalhar a nossa programação. 

Fomos leito por leito chamando as crianças para brincar. Não foi preciso muito esforço para o primeiro se levantar e nos convidas para brincar. Stephani simplesmente disse:

- Bom dia, nós vamos brincar de que hoje?

- Você é quem decide. Vamos lá para a brinquedoteca?- respondeu a voluntária. 

Em um passe de mágica, Stephani estava de pé, calçando seus chinelos e com a mão no soro falando “Vamos?”

E assim foi com todas as crianças, até aquelas mais abatidas com o tratamento. Eu deveria ter percebido que isso era um sinal de que aquela manhã seria mágica. 

Após algumas partidas de UNO com Stephani e Demmer, resolvi parar e olhar para todas as crianças que estavam na brinquedoteca. Estavam todos sorrindo e brincando. A alegria estava por todo lado. Mas não é assim que deveria ser sempre?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O primeiro de muitos



Eliza Reymao

Domingo de eleições! Domingo em que a população sai às ruas para exercer mais um de seus direitos e deveres da nossa “democracia obrigatória”. Porém, ao acordar, e antes de ir cumprir o meu dever e direito, fui exercer outro papel como cidadã, este sim, em minha sincera opinião, extremamente gratificante. Aos 26 anos, primeira vez no Hemorio. Pensamento automático ao entrar na sala da enfermaria:  'Por que nunca vim aqui antes?!' Mas enfim, nunca é tarde para começar.

A famosa apreensão de todas as pessoas que começam nesse tipo de trabalho voluntário, principalmente para aquelas que não possuem nenhuma ligação com a área da saúde, sim, bateu por um instante. Entretanto, bastou ver um armário cheio de brinquedos e uma espiadinha naquela sala com as paredes pintadas com desenhos, enquanto lavávamos as mãos, para aquela leve tensão ser derrotada.

Logo no início, uma carinha de sono misturada a um sorriso largo me recebeu! Kauane queria brincar, jogar, falar, desenhar, inclusive presentear a “tia Déia” com seu desenho cheio de borboletas! Pouquíssimo tempo depois, o almoço chega. 'Mas não acabamos de começar?!', pensei. Na verdade já havia se passado duas horas e meia em que eu estava ali, em pé, brincando com ela, admirando as coisas mais simples da vida, como desenhar uma borboleta, sem perceber que estava dentro do 'tão temido hospital'. E para completar, ainda fui indagada pela pequena se eu iria voltar. Neste momento sim o nó na garganta apareceu, não pelo fato de ver as crianças e os seus problemas, mas pelo gesto da Kauane, que me mostrou que naquele dia eu havia conseguido fazer um bem a alguém.

Por fim, todos os pensamentos e sentimentos envolvidos com aquela manhã me remeteram a um pensamento que sempre tento seguir quando algo não está caminhando da maneira como desejamos: Todos os problemas que cabem a nós uma tomada de decisão, não são problemas, são apenas desafios. Problemas são aqueles que não dependem de nossas atitudes para que sejam resolvidos. E mesmo assim, vendo aquelas crianças tão felizes, encontrei mais um aprendizado para esse pensamento: Que até mesmo diante de um real problema é possível ser feliz!

É incrível como um gesto tão fácil, tão simples, que não nos exige esforço nenhum, nos faça tão bem e muito mais a uma pessoinha que até então nem fazia ideia de que você existia!

O Sonhando Juntos é um curso intensivo de vida!
Conclusão do dia: Que foi o primeiro de muitos!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Cúmplices


 Gustavo Godoy

“Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: 
amor no coração e sorriso nos lábios.”
Martin Luther King

Manhã de domingo, frio quase glacial. Depois de quase três meses, sinto novamente o gostinho de ir para o Hemorio. Conforme o tempo vai passando, os voluntários vão chegando, em sua maioria “marinheiros de primeira viagem”, formados na semana anterior, com aquele misto de medo e ansiedade sobre o que iriam encontrar na chegada ao 9º andar. Logo que entramos na pediatria, a primeira surpresa: a brinquedoteca estava fechada para manutenção e teríamos que realizar a atividade na própria enfermaria. Nada que diminuísse a empolgação em passar mais uma manhã com nossos pequenos amigos.

Mãos lavadas, bolsas devidamente acondicionadas na sala de procedimentos, fomos ao que interessava: passar de leito em leito, arregimentando cúmplices para subverter a ordem daquela enfermaria, tão acostumada com um silêncio quase ensurdecedor. Logo de cara, conseguimos o primeiro: Daniel aguardava ansiosamente a chegada dos tios, enquanto acenava de longe. Mesmo numa cadeira de rodas, foi logo se chegando, como se fosse amigo de longa data.

- Quer pintar, Daniel?

- Quero.

- Quer brincar com massinha, Daniel?

- Quero.

- Quer ouvir uma estória, Daniel.

- Quero.

Se Daniel queria tudo, o mesmo não se pode falar dos outros, inicialmente. Dayane só queria ficar no celular. Depois de um processo árduo de convencimento, topou escutar uma estória. E outra. E outra. E outra. E os livros acabaram. “Não tem problema tia, eu tenho o livro do Chapeuzinho Vermelho”. Tudo bem, Dayane, você que manda, vamos de 'Chapeuzinho Vermelho'. No fim, ainda sobrou tempo de uma partida de 'Cara a Cara', só para variar.

Num outro leito, um corpo completamente coberto, apenas o nariz de fora. “Deve estar dormindo, e com muito frio”, pensamos. “Não, ele está com vergonha de vocês, fingindo que dorme” – entregou a mãe. Dito isso, lá fomos nós quebrar o gelo e acabar com a vergonha, vergonha esta que se foi logo no primeiro contato. Depois de um banho, lá veio Lucas, 12 anos, jogar algumas muitas partidas de Uno, com direito a distribuição de diversos castigos, denominação dada na hora para todas as cartas 'compre 2', 'compre 4', 'pule o próximo', que eram dadas uns aos outros.

Observando tudo de longe, Fabrício, muito pequeno, não queria sair do colo da mãe, nem mesmo para brincar com os tios ou com as outras crianças. Foi, no entanto, personagem do ponto alto daquela manhã: ao vir Daniel, aquele que quer tudo, vestido com uma camisa do Flamengo (ok, ninguém é perfeito), desandou a chorar, com direito a soluços. Tudo porque queria vestir uma camisa igual (e eu pensando que era uma crise de “flamengofobia”). Daniel, do alto da sabedoria dos seus seis anos, pediu licença, foi até o seu leito e logo retornou com a camisa do Flamengo nas mãos, para entregá-la ao Fabrício que, imediatamente, parou de chorar. Pois é, Daniel, quem disse que só os adultos podem ensinar às crianças? No domingo, com aquele pequeno gesto, você deu uma lição para todos nós...

domingo, 23 de setembro de 2012

O poder de um sorriso



Mariana Keller

Dizem que o sorriso de uma criança é o que há de mais puro e sincero. E eu digo ainda mais, o sorriso de uma criança é capaz de transformar.

Lá estava eu no Hemorio em mais um domingo de manhã pronta para dar e receber energia positiva. Só que, dessa vez, com uma nova responsabilidade: era minha primeira vez como voluntária líder. Estava um pouco tensa e preocupada, afinal, além de dar atenção para as crianças, precisava estar atenta para que tudo corresse bem. Mas bastou o sorriso de Sabrina para que meu coração se acalmasse.

Ela já esperava ansiosa por nós. Assim que chegamos, desceu da cama e nos recebeu com muita alegria.

- “Vamos brincar?”, perguntei.

- “Vamos!”, respondeu agitada e colocando os sapatinhos.

- “Ela estava doida para que vocês chegassem”, disse a sua mãe.

E Sabrina aproveitou sua manhã com tudo o que tinha direito. Coloriu desenhos, desenhou seus próprios, brincou de massinha, de lego, jogou cartas e, finalmente, decidiu descansar um pouco assistindo pica-pau. E mesmo que no fundo estivesse triste por estar ali, fazia questão de nunca demonstrar, revelando uma compreensão bastante madura para quem tem apenas seis anos de vida.

Apesar de muito alegre e disposta, Sabrina falava pouco. Durante nossa conversa de poucas palavras e muito carinho, descobri que uma das coisas que ela mais gosta é o chocolate. O resto, ela falava apenas através do sorriso.

Tudo bem Sabrina, você, assim como o chocolate, tem o ingrediente que mais encanta as pessoas, a doçura. Não precisa de muitas palavras. Sua missão aqui é transmitir o amor através dos detalhes, assim como as coisas mais belas e simples da vida. Afinal, já dizia Martin Luther King: “Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios.”.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Mais uma manhã de magia



Natália Andrade

E chegamos ao Hemorio. Estamos sonolentos ainda e as crianças também. Os pequenos respondem com certa desanimação à pergunta: “Quem quer brincar hoje?”. As vozes baixinhas respondem: “Eeeu”, ou apenas levantam os dedinhos.

Então chegamos devagarzinho, de mansinho, ganhando espaço aos poucos, perguntando nome, idade, e cada voluntário vai se juntando com seu “melhor amigo por uma manhã”. Pois bem, minha pequena amiga se chama Sabrina e, para aquecer, ela quis pintar um desenho de princesa. Enquanto isso, conversávamos...

- O que tem pra fazer tia?

- Ah, a gente pode pintar, desenhar, fazer os deveres desse livrinho, jogar joguinhos, brincar de massinha, ler uma história, fazer bolinha de sabão...

- Nossa, vocês trouxeram tudo isso pra cá?

- Sim.

- Então vocês são mágicos né?

- Hummm, talvez.

- Hahaha, aposto que sim, igual nos desenhos!

Uma simples pergunta me colocou a pensar... Será que não temos dentro de nós um pouco de mágicos?

As carinhas que há um instante estavam apáticas começam a tomar forma de sorrisos e gargalhadas, as vozes baixinhas começam a falar cada vez mais alto, fazendo perguntas, tagarelando sobre qualquer coisa. Os olhinhos agora se parecem com estrelinhas, de tão brilhantes, e neles se reflete a bolinha de sabão, a famosa e mais querida bolinha de sabão. As mamães e papais que sofrem por ver seus pequenos tesouros debilitados, agora se assemelham a eles. Sentam-se no chão, desenham, fazem uma pizza de massinha, se concentram no Uno e sorriem! Será que não existe um pouco de magia nisso tudo?

E o desenho da princesa foi só pra aquecer mesmo. Eu e Sabrina jogamos cara-a-cara, fizemos dever (Sabrina é muito inteligente, fez continhas, caça palavras, palavras cruzadas e escreveu seu nome em cada dever), fizemos bolinha de sabão, jogamos Uno com os outros amiguinhos, brincamos de massinha e jogo da memória! Tudo no maior pique!

Muita gente me pergunta e se pergunta onde está Deus em tanto sofrimento no mundo. Pois eu já me respondi e respondo pra quem quiser: Deus está aí, em cada sorriso, em cada par de olhos brilhantes cheios de esperança, em cada abraço, em cada: “Ah tia já vai embora?”, em cada plano que essas crianças fazem para o futuro. Deus É essa “magia” e está presente o tempo todo, na nossa capacidade de amar, de sonhar, e olhar pra aquelas crianças não como crianças doentes, mas simplesmente crianças!!! Crianças como todas as outras do mundo que adoram imaginar, brincar, fazer uma bagunça... Crianças que têm sonhos não menos importantes que os dos adultos e que merecem ser realizados.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Pássaros foram feitos para voar



Rafael Peclat

Lá estava eu mais um sábado à noite programando meu celular pra tocar às 7 da manhã no domingo.  Foi uma noite curta. Um minuto antes a responsabilidade me acordou. A cama me disse “FICA!”, a coberta me enroscou, os olhos pesaram, mas o coração gritava “LEVANTA, ELES ESTÃO TE ESPERANDO!”. Eu não tinha escolha. Lutei contra o tempo, só para não ter que ouvir aquela triste musiquinha do despertador tocar. Desativei o alerta e corri para o banho.  Estava preparado pra mais uma manhã de atividade no Hemorio. Será?

Na porta do hospital estavam meus queridos amigos de batalha, vestidos com os jalecos e o sorriso estampado no rosto.  Vamos à luta! 12 crianças na pediatria. Armem-se com criatividade, munam-se com alegria! Vamos convocar nossos guerreiros para a sala de recreação!

Logo eu estava no pé da cama de um deles, com minha pasta e caixas de brinquedos equilibradas no braço, fazendo as perguntas-chave:

-Bom dia! Como é o nome desse rapaz , mamãe?

-Daniel.

-Hmmm... Quantos aninhos?

- Quatro anos.

-E ae Daniel! Quer brincar? Tem um monte de jogos maneiros, desenhos...

-Ele não pode sair daqui. Na verdade não pode nem ficar sentado, só deitado.

Nesse momento Daniel já estava bem acordado. A cabeça balançando e os olhos diziam “Sim, eu quero tudo!”.

- Não tem problema, se puder eu fico aqui com vocês! Você quer que eu fique Daniel?

- Quelo!

Era só o que eu precisava ouvir! Rapidamente fui buscar os livrinhos, que até então eu não tinha usado. Voltei com as mãos cheias de várias histórias incríveis de animais falantes, cantores e festeiros, loucos o suficiente para tornar a fantasia completa.  Mas em uma das histórias Daniel se mostrava realmente curioso. A história do papagaio que viu seus amigos serem presos em gaiolas.

- Pu que?

- Eles queriam aprisioná-los na gaiola!

- Pu que?

- Queriam vendê-los!  Que triste, não é Dani? Passarinhos foram feitos pra voar! Não podem prendê-los. Temos que deixá-los livres! Não acha?

-É!

- Vamos ajudá-los! Vamos chamar os outros animais para soltá-los!

Me lembrei dos quadrinhos mágicos que comprei.  Um livrinho genial, que basta  colocar um filme transparente listrado na frente da imagem que os animais ganham vida. A cada movimento Daniel parecia descobrir uma nova paixão.  Apertava o livro cada vez mais forte. Queria mais movimento, mais velocidade, mais ação! Descobri que o macaco era um de seus favoritos.

- Você já viu um macaco de perto Dani? Não? Dani já foi ao zoológico, mamãe? Não?


Minha mente já estava borbulhando de ideias. Mas tinha acabado de dizer que pássaros têm que ficar soltos. Como Dani iria ver tantos animais em jaulas? De repente o ouvi dizer com convicção:

-Eu quelo! Quelo í!

Aí o coração apertou. Não poderia prometer nada. “Vou te levar!” estava escapando pela boca, mas tive que engolir e substituir por um sorriso.

-Já sei! Tive uma ideia! Bolinhas de sabão! Vou fazer um monte e você vai estourando com o dedinho, beleza?!

O sorriso já disse tudo. Eu fiquei sem fôlego de tanto assoprar bolinhas, mas Daniel queria cada vez mais. De repente já estava na hora de ir embora. Fui recolhendo de leve todos os livros, cartinhas e assoprando as últimas bolinhas.  Junior, o colega da cama ao lado que já estava ligado me disse:

- Ih cara! Acho que te deixaram pra trás! Vai lá! Hahahaha

Eu já estava saindo quando ouvi a mãe de Daniel me dizer sorrindo “Olha, ele tá chorando!”. Quando olhei, vi Daniel com as mãos nos olhos, a boca aberta e as lágrimas caindo. É claro que eu quase fiz o mesmo. Mas segurei o choro.

-Dani, eu preciso ir agora, mas oh... não fica triste não... pensa nos passarinhos!

Pois é Dani. Bem que eu queria leva-lo junto, mas eu não posso te prender comigo. Pássaros foram feitos pra voar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Saudades do Brasil



Larissa Matos Lima

“Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”… as crianças que aqui beijam e abraçam, não beijam e abraçam como lá.

Depois de 10 meses em Sydney – Austrália, morando e vivendo a cultura australiana, posso dizer que senti uma falta, uma ausência enorme do Brasil. E quando falo em Brasil, não me refiro às barreiras geográficas e políticas, mas sim do que este país representa para mim. Família, amigos, comida, abraços, carinho, compaixão, aproximação, toque, troca, amor… Eu amo o Sonhando Juntos e tenho muito orgulho do trabalho que fazem e de ter feito parte disso tudo. Cada toque, cada momento, cada carinho, cada palavra, cada sonho marcam a gente de uma forma única e inesquecível. Eu tentei fazer trabalho voluntario em Sydney, mas é tanta burocracia, dar amor gratuitamente e livremente precisa estar adequado a leis e estatutos. Ah, que falta me fez o amar incondicional do Brasil. Por isso mesmo a oportunidade de ir novamente à Casa de Apoio, ver meus pequenos, abraçá-los, beijá-los, senti-los e ouvir aquele “tia”, mesmo não sendo nada da família, foi a uma das coisas mais especiais que aconteceu na minha ida ao Brasil.

Ver cada rostinho mais uma vez, sentir-se importante e especial, ainda que seja cheia de balões na cabeça, ler mais um livrinho com atenção total das crianças, andar de mãos dadas, trocar um sorriso… Isso é imensurável. A vida é feita de laços, e esses permanecem, seja lá a distância que for. E tudo o que eu vivi e todas as crianças que conheci ficaram para sempre comigo.

É muito difícil explicar o quanto esse dia foi mágico para mim, o quanto estar lá foi especial. Acho que se o sonho de uma criançaa foi realizado naquele dia, com toda a certeza do mundo a criança escolhida fui eu. Obrigada Sonhando Juntos por realizar esse sonho, por me dar a honra, o prazer e a alegria de estar mais uma vez no meio de tanto amor, dedicação, alegria e carinho. Obrigada por me dar a chance de dar o meu amor, assim, na forma mais natural e viva do sentimento. Em cada sorriso, em cada abraço, recarrego as minhas energias para continuar seguindo e acreditando que sonhar junto, aqui ou na Austrália, sempre é possível.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

“Vidas alheias e riquezas salvar”

Lívia del Porto

Com este lema, usado para resumir a missão do Corpo de Bombeiros, começamos nossa manhã de sábado para realizar também uma missão: o sonho do João Lucas.

Este sonho foi cuidadosamente planejado e organizado por muitos voluntários do Sonhando Juntos durante muitos meses. As funções foram divididas: festa de aniversário surpresa, visita ao quartel, presentes, etc. No entanto, nosso amiguinho passou por momentos muito difíceis no seu tratamento e o sonho foi sendo adiado. Quem pode ir ao Hemorio nos últimos dois meses certamente pode notar como o João estava cansado e abatido...

Daí surgiu a oportunidade de realizar uma parcela do sonho, ainda durante a internação. E então, mais uma vez, os voluntários se organizaram para levar até o João Lucas um gostinho de felicidade, para que essa pudesse ser uma mola propulsora da sua recuperação. E foi exatamente assim que percebemos durante a realização do sonho dele.

Chegamos ao Hemorio às08h30 e, depois de vencido o primeiro obstáculo para a liberação dos três bombeiros, subimos para o 7º andar (a pediatria está em reforma e as crianças estão na área juvenil). Ao entrar no leito do João, que dividia o espaço com o pequeno Thiago, de 1 aninho, encontramos a felicidade da mãe e do irmão, enquanto o próprio João parecia não ter se comovido com aquela visita especial.

Novamente percebemos como nosso caminho está marcado por pessoas do bem e dispostas a colaborar para a doação e o bem ao próximo. Foi quando um dos bombeiros conseguiu se aproximar, numa conversa “de homem pra homem”, e ganhar a confiança do João. Depois disso ficamos quase uma hora ouvindo as histórias dos resgates, das especialidades, da rotina do quartel e da carreira desses bravos guerreiros.

Saimos de lá com a certeza de que a felicidade materializada nos presentes dados ao João Lucas (camisa, boné, medalhas e livro) não foi nada se comparada ao brilho nos olhos e no coração tocado pela ideia de sair do hospital e poder acompanha-los até o quartel, entrar nas viaturas e conhecer tudo de pertinho.

João decidiu com muita certeza que quer ser combatente! E nós temos convicção de que isso se realizará, pois na luta da vida ele já se mostra um grande vencedor!

Agradecemos ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, representado pelos Sargentos Caetano, Dutra e Leonardo, pois além de toda capacidade profissional que demonstram a cada dia para nossa sociedade, também foram heróis para uma criança, demonstrando estimados valores que certamente contribuíram para o sucesso deste sonho e para a felicidade do João Lucas.
Agradecemos ao esforço de cada voluntário e da coordenação do SJ, que pacientemente fez todos os contatos possíveis com a família e com o Hemorio, para tornar esse dia realidade. O gostinho de realizar este (primeiro para alguns) sonho nos enche de esperança, orgulho e disposição para encarar os próximos!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O dia em que João virou bombeiro

Mariana Bueno


"Tudo o que um sonho precisa para ser realizado
é alguém que acredite que ele possa ser realizado."
(Roberto Shinyashiki)

A empolgação para realizar mais um sonho esteve presente desde o primeiro momento, quando descobrimos que o garoto João Lucas, então com 10 anos, paciente do Hemorio, queria ser um bombeiro. Voluntários engajados, ideias estruturadas, contatos feitos, presentes comprados... Tudo pronto para que o sonho acontecesse bem no dia do aniversário de 11 anos dele, com direito a passeio no quartel dos bombeiros, lanche com decoração temática, bolo, guloseimas, parabéns e, claro, muita festa. Mas aí veio uma recaída da leucemia e tivemos de adiar tudo, sem data para ser retomarmos. Ficamos sem saber o que e como fazer. Até que surgiu a ideia: se João não pode ir até os bombeiros, por que não levar os bombeiros até ele? Era a hora de replanejar o sonho de uma forma diferente.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) foi totalmente parceiro. Toparam na hora e a visita foi então combinada. Três bombeiros iriam acompanhar o grupo de voluntários do Sonhando Juntos ao Hemorio e mais um sonho seria realizado, mesmo que de um jeito meio improvisado, totalmente diferente do que nós mesmos havíamos sonhado, mas dentro do possível para levar um pouco de alegria para o João Lucas.

Durante todo o processo de realização do sonho estive em contato com a mãe dele, dona Luzia. Ela largou tudo na cidade onde moram (Macuco, região serrana do estado) - emprego, marido e outros dois filhos mais velhos - e veio para o Rio de Janeiro cuidar da saúde do filho, em dezembro do ano passado. Há dois meses estão direto no hospital. Ela passa 24 horas com ele, dorme em uma poltrona do lado da cama de João. Um período longo, cheio de altos e baixos. Chorei junto com ela quando a notícia era de um estado quase terminal, sorri e senti vontade de abraçá-la quando aos poucos ele foi apresentando alguma melhora.  Era com Luzia que eu falava para combinar todos os detalhes da surpresa que no último sábado, enfim, aconteceu.

João Lucas viveu a emoção de ser bombeiro por um dia. Ainda que na cama, ainda que num quarto de hospital, ainda que sem poder andar... Durante aquele tempinho que passamos lá, não havia problemas ou preocupações. Estávamos todos dentro de um mundo mágico, onde não há tristeza, não há doença. Um mundo mágico onde todos os sonhos são possíveis.

Os voluntários já estavam presentes no quarto quando os bombeiros entraram. Quieto, até mesmo em decorrência de pesados exames feitos no dia anterior, e sonolento, pois era bem cedo, ele recebeu os presentes do SJ: uma camisa e um boné e um botom oficiais dos bombeiros e um livrinho infantil sobre o tema. E os próprios bombeiros levaram ainda duas medalhinhas da corporação como lembrança. João recebeu tudo ainda tímido. Com a ajuda da mãe e do irmão, vestiu a nova roupa. A partir de então, começou a se sentir um bombeiro de verdade. Aos poucos foi ficando mais solto. Ouvia com atenção as muitas histórias que os bombeiros contavam e, curioso, fazia perguntas: Como é apagar o fogo? Tem que sair do quartel com o carro bem cheio de água, né? E como eles avisam que tem uma emergência? Vocês já salvaram algumas vidas?

Superatenciosos, os bombeiros Leonardo, Dutra e Caetano contavam mais e mais histórias, envolvendo até mesmo os voluntários presentes, que também tinham muitas curiosidades e perguntas para fazer. Disseram a ele que, assim que tiver alta, um carro dos bombeiros irá buscá-lo e levá-lo para um passeio no quartel. Com palavras motivadoras, incentivaram João a ter cada vez mais forças para lutar e sair logo desta situação. Compararam sua estada no hospital com uma emergência dos bombeiros. Você não quer estar ali, aquele lugar não é legal, mas você transforma o medo em coragem para enfrentar, pois sabe que só poderá sair de lá quando tudo estiver resolvido. Assim é também com o João, que prometeu transformar qualquer tristeza em alegria, para se recuperar logo. Palavra de bombeiro!

sábado, 14 de julho de 2012

Tudo valeu a pena




Feliphe Fugimura

Aqui estou eu, no Shopping Downtown, andando na chuva, sozinho e rindo! Como? Rindo? Em outros momentos eu correria para o meu destino ou esperaria seco, quente e quieto em um local "seguro".

Mas desde o dia 8 de julho a chuva me traz tantas alegrias, tantas boas lembranças, que decido seguir calmamente e quase que fechar os olhos (mais do que o normal) relembrando o que é o Sonhar Acordado, o que essa ONG sensacional me traz, como o trabalho voluntário é renovador e, principalmente, como é bom ser criança.

Ter jovens de locais, educação, condição financeira e religiosidade tão distintas, e o pior, que mal se conhecem, juntos em função de um objetivo comum é extremamente empolgante.

Nós da coordenação somos no total um pouco mais de 20 jovens que dedicamos nosso tempo há pouco mais de três meses para dar todas as condições para que esse sonho acontecesse. Durante o caminho nos descabelamos, estressamos, brigamos, nos doamos demais e confesso que várias vezes até pensei se realmente valia a pena, se eu estava no caminho certo, se perder provas para dar formação e quase ser reprovado em diversas matérias da faculdade por falta de concentração tinha um real objetivo e o quanto era válido.

Até que chegamos no dia 8 de julho ansiosos, esperançosos e vimos que toda essa correria e esforço valeu a pena. Ter essa multidão de pessoas que sairam dos seus lares debaixo de chuva, que têm orgulho de vestir aquela camisa branca, amarela e vermelha nos renova, nos prepara para mais 15 festas e nos faz querer crescer e buscar atender 900, 1000, 2000 crianças!

E a chuva? Não diminuiu em nada a alegria das crianças pequenas e de nós, crianças grandes. Muito pelo contrário, deixa chover. Chove chuva, chove sem parar!

Espero todos na próxima! MUITO OBRIGADO!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mari & Duda

Mariana Rodrigues

Marinheira de primeira viagem? Talvez pela chuva me senti um pouco como marinheira, mas o nervosismo de participar pela primeira vez de um grande evento do Sonhar Acordado passou no momento em que botei meus pés no sítio. Logo vi centenas de voluntários que, assim como eu, não se importavam com a chuva, ou em acordar cedo num domingo. Isso era um pequeno detalhe do dia maravilhoso que ia acontecer, que NÓS íamos fazer acontecer. Confesso que naquele momento comecei a correr e pular que nem criança e quando os ônibus com aqueles anjinhos começaram a chegar... Nada explica esse sentimento de ansiedade e euforia!

O primeiro ônibus encostou com as crianças cantando um “hino” de homenagem ao Sonhar Acordado. Foi quando pensei que, por mais que o Dia do Sonho seja “apenas” um diazinho, realmente faz diferença para aquelas crianças, que passam meses esperando ele chegar. Acredito que todos os voluntários, além de emocionados, ficaram ainda mais animados na fila, gritando, pulando, fazendo até uma “ola” improvisada. Difícil distinguir quem estava mais feliz por estar ali.

Finalmente pude abraçar minha nova amiga, Maria Eduarda,  Duda para os mais íntimos. A Duda tem cinco aninhos, e faz parte do programa Amigos para Sempre. Quando perguntei o nome dela e ouvi a resposta bem fraquinha com a cabeça baixa pensei que precisaria de um bom plano para tirar a timidez da Duda. Mas logo peguei ela pela mão, saímos correndo no meio dos voluntários e não paramos mais até o fim do dia! Brincamos de pique pega, de corrida, dançamos, seguimos as coreografias, fomos no pula-pula, cama elástica e na pintura de rosto, onde ela se transformou numa borboleta linda, voando por aquele dia chuvoso.

Quando anunciaram que o nosso dia estava chegando ao fim e a Duda começou a esfregar os olhinhos perguntando se tínhamos que ir embora, se íamos nos ver no dia seguinte, foi difícil controlar a emoção. Realmente, apesar do cansaço, eu também não queria que acabasse. Pensar que aquele laço tão forte que criamos ia acabar assim, no mesmo dia? Quase que abri o chororô!
Foi aí que entendi de verdade o que é o Dia do Sonho. “Não Duda, não vai acabar. Você vai lembrar amanhã da tia, não vai? Vai lembrar de como nos divertimos hoje, quantos motivos temos pra sermos felizes? Então, a tia também vai lembrar de você amanhã, e depois, e depois... Nós somos amigas, não vamos nos  ver amanhã, mas sempre que tiver saudade pode fechar os olhos e lembrar do nosso dia tão especial, e aí vamos estar juntas de novo! E na próxima festa quem sabe não nos encontramos? Você vai vir brincar com a gente de novo?”

A tia Mari com certeza vai voltar pra brincar com a Duda e com todas as outras crianças especiais que estavam ali sempre que puder e, com certeza, vai se lembrar da Duda sempre que sentir saudade. É um dia que você se lembra pra sempre!

Eu agradeço ao Sonhar Acordado e a todos os colaboradores que possibilitaram esse dia tão especial. Acho que quem está de fora não tem noção do bem que isso faz na vida de uma criança e principalmente no coração de um voluntário.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dia do Sonho 2012

Leonardo Pereira:
"Na minha primeira vez no Dia do Sonho tive o grande prazer também de poder ir no ônibus com as crianças. Fiquei tão feliz que não vejo a hora de poder ir novamente a mais um evento do Sonhar Acordado. Adorei tudo, fiquei muito honrado de ter visto tantas pessoas querendo fazer o bem, já que hoje é uma coisa um pouco difícil de se ver. Durante a festa fiquei com um garotinho de seis anos que adora futebol e era muito, mas muito agitado mesmo. Gostaria muito de agradecer e parabenizar a todos os criadores do evento e dizer que vocês são pessoas muito iluminadas e abençoadas. Gostaria de deixar aqui também a minha grande satisfação de poder ter ido no ônibus, porque foi ali que meu coração começou a bater mais forte de tanta felicidade. Quando cheguei no sitio parecia que iria explodir (risos). Muito obrigado a TODOS que puderam me proporcionar tamanha felicidade."


Nathália Almeida:"Sujas???? Pode ate parecer, mas o que estamos na verdade é limpas, renovadas, por um dia com centenas de crianças, várias gargalhadas e a toda hora aquele "Oh tia, oh tia", com muitos sorrisos e alegria! Tudo graças ao Dia do Sonho. Voltar a ser criança e fazer a alegria de muitas crianças é inexplicavel. Palavras não sao capazes de resumir, só vivendo e sentindo. Jogar bola, comer besteiras, correr na grama, pular, brincar, dançar, se jogar na lama literalmente...rs Tudo isso mostra que nem todo o mundo está perdido, ainda existe esperança. Parabéns ao Sonhar Acordado, um lindo trabalho, um dia mágico nao só para as crianças, mas para todos nós que fizemos parte e compartilhamos dessa alegria!!!"


Renata Cabral:
"Minha primeira vez no Dia do Sonho e conheci a Carol, uma garotinha super tímida que mal me dizia em qual brinquedo queria ir. E de repente eu pergunto: 'Vamos fazer uma pintura no rosto?' Os olhos brilharam e junto com aqueles olhinhos a pergunta: 'Tia você vai fazer também, né?' Pintamos, corremos, brincamos na chuva e sonhamos!!! No final, uma certeza: 'Até a Festa de Natal, tia!' Nos vemos lá Carol!!!"



Uyla Garcia:
"Mais um Dia do Sonho. Frio, chuva, muita chuva e eu morrendo de ansiedade. Os voluntários já chegaram brincando, jogando bola, correndo pelo gramado, na chuva mesmo. E lá fui eu esperar as crianças, uma em especial. Assim que ela desceu do ônibus, começou meu dia. Corri, dancei, rodei. Ninguém parecia notar a chuva que caia. Foi o Dia do Sonho mais incrível que participei. Eram crianças e voluntários virando crianças. Fui embora sorrindo por aquele dia e sorrindo ainda mais por saber que ano que vem tem mais."


Victor de Paula:
"Um domingo fechado, chovendo, ótimo para ficar em casa dormindo, né? Com certeza sim, mas não importam as circunstâncias, era o Dia do Sonho. O que não faltou foi ânimo e força de vontade para acordar cedo, chegar lá, jogar futebol, me sujar de lama e carregar os “pequenos” Diego e Paulo no ombro. Eu já os conhecia, então já sabia o que me esperava. Paulo, com seu jeito mais tímido, mais quieto, um pouco receoso com a chuva. Já Diego nem se importava, com chuva ou sem, 0° ou 100°, ele queria brincar, jogar futebol. Mesmo que de maneiras diferentes, era possível enxergar a alegria em seus rostos e seus gestos. E não só dos dois! É uma sensação indiscritível você poder olhar para o lado e ver incontáveis crianças felizes, brincando, sorrindo, felicidade que talvez seja proporcionada a elas poucas vezes. Apesar de sair de lá sujo e cansado, o mais importante foi que saí feliz, não só por ter proporcionado felicidade às crianças, acho que mais ainda pela felicidade que elas me proporcionaram depois de um dia inteiro."


Bianca Bellas:"O Dia do Sonho foi maravilhoso como sempre, mas este ano teve um gostinho especial pra mim porque já fazia um tempo que eu não via as crianças da Jesus de Nazaré (instituição que eu trabalho no Amigos para Sempre) e acho que mais do que aproveitar a festa, o que eu mais queria era poder revê-las. Mesmo com a chuva, o frio e toda aquela lama as crianças aproveitaram muito, sem contar os muitos brinquedos que tinham, as bolas, as quadras e tudo mais. Pra mim o melhor momento deste dia é quando paro e vejo o quanto as crianças estão se divertindo. Para qualquer lugar que você olhe só vê crianças correndo, pulando, sorrindo e contentes por estarem em um lugar diferente, com outros amiguinhos e, o mais importante, cheio de tios que estão, pelo menos naquele dia, dispostos a fazer o que for possível para a felicidade deles e para tornar um dia inesquecível."



Rafael Peclat:
"Este ano o Dia do Sonho foi muito especial. Dessa vez participei como apoio, pintando o rosto das crianças. Foi uma experiência muito legal, tive a oportunidade de conversar um pouquinho com cada uma delas. Apesar da chuva e do frio, todas pareciam bem empolgadas com as atividades. Enfrentaram a fila curiosas para verem seus rostos decorados. Entre borboletas, flores, Hulks e Homens de Ferro, os pequenos saiam do quiosque, onde os voluntários se empenhavam na arte, se sentindo verdadeiros heróis e princesas. Fiquei feliz de ver o empenho dos voluntários e dos organizadores presentes em fazer a festa acontecer apesar das adversidades, principalmente do tempo chuvoso. As atividades estavam bem legais. Os brinquedos estavam muito divertidos e as crianças estavam felizes. Para mim a oportunidade foi incrível, já que conheci diversas crianças com personalidades diferentes. Com certeza valeu a pena."

segunda-feira, 9 de julho de 2012

As muitas festas de Rebeca e Ellen



Giulia Gomes

A primeira vez que fui a uma formação do Sonhar Acordado, me lembro perfeitamente, me perguntava o que um dia de diversão extrema poderia trazer de mudança efetiva na vida de uma criança. Não via muito sentido em me esbaldar de brincar por um dia e depois nunca mais ver aquele pimpolho que tratei durante algumas horas como um filho meu. Ouvi o discurso incentivador dos líderes e coordenadores chamando atenção para os detalhes daquele dia. “Preste atenção em cada exemplo” – eles diziam. “Faça com que este dia marque a vida deste pequeno.”

Não fui capaz de absorver por completo aquelas palavras naquele momento. Mas fui e fiz o melhor de mim. Me entreguei 100% ao meu propósito de estar ali e me diverti muito. Três anos se passaram e a vida foi me levando por caminhos difíceis e trabalhosos. Mas todos os anos eu guardo os dias de festa do Sonhar Acordado como uma imensa responsabilidade para mim, independente do quão atarefada eu esteja.

E ontem, depois de muitas festas, eu pude descobrir a resposta das minhas muitas perguntas daquela primeira formação. Já faz cinco festas que eu fico com as mesmas duas meninas da instituição “Cantinho da Natureza”, de Copacabana. Rebeca e Ellen. Ficamos juntas numa festa e nos encantamos. E em todas as festas contamos os dias pra ficarmos juntas durante aquelas horas.
Eu pude ao longo desses últimos anos observar o crescimento das duas. A Rebeca tinha oito anos na primeira vez que pegou minha mão e me disse: “Tia, você vai ficar comigo, né?!” Na festa seguinte, nós duas resolvemos cuidar da Ellen. Uma menininha meiga e pequenina, na época com cinco anos, participando de sua primeira festa. Me encantei com a maturidade de Rebeca, tão jovem e tão madura, cuidando da Ellen como se fossem irmãs.

Esse ano, como todo ano desde então, conto os dias para ver minhas pequenas. Mas esse ano, algo mudou... A Rebeca ultrapassou a idade limite e não pode nos acompanhar no Dia do Sonho. Me deixou cuidando da Ellen, sentindo todo o peso da responsabilidade que ela sempre me ajudou a carregar. Sentimos muito a falta dela. Pude perceber nesse momento a dimensão de um dia. E vi a importância que aquilo tinha para nós três.

E nesse Dia do Sonho de 2012, a Ellen me surpreendeu muito! Ela se lembrou de todas as orientações que eu dei pra ela no primeiro dia que ficamos juntas. Ela agora se apressa para pegar o lixo do chão, mesmo quando não foi ela que deixou cair. E já sabe direitinho que não pode encostar na tampa de um vaso sanitário desconhecido... corre pra lavar as mãos assim que sai do banheiro. Sabe esperar pela sua vez numa fila longa e sabe definir quando vale a pena ou não esperar nessa fila. A minha menininha está crescendo... mas o brilho no olhar dela quando me vê mais uma vez continua o mesmo. Continuamos sonhando acordadas! Sempre e sempre! E já planejo o dia de abraçar as duas mais uma vez.

E só consegui manter esse contato certo com as minhas meninas durante essas festas porque desde o início me voluntariei para ajudar na organização dos ônibus da instituição. Todo ano é uma bagunça boa!  Adoro encontrar com todas aquelas crianças bem cedinho, poder abraçar cada um daqueles pimpolhos e conhecer um pouco de cada um deles. Viajar até o local da festa ao som das novas e velhas cantigas de passar o tempo e explorar a minha imaginação para entreter um monte de pequenos inquietos num ônibus, poder ver o olharzinho ansioso deles e saber que durante a festa não terei apenas uma ou duas crianças para brincar.  Eu passo a ter 40, 50!!! Todas elas passam por mim, me abraçam, me chamam para me divertir com elas e com os “seus” voluntários.  Experiência riquíssima para mim, que eu faço questão de repetir em todas as festas. Fazer parte disso me faz muito feliz!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Anjos por algumas horas



Carina Endo

Aguardei ansiosa a chegada do meu primeiro dia de visitas no Hemorio, com aquele frio na barriga e aquela apreensão por não ter ideia do que me esperava naquela manhã. Depois dos procedimentos higiênicos fomos aos pouquinhos acordando as crianças, dando o nosso bom dia com um sorriso gigante e todas estavam tímidas. No primeiro leito falamos com o Uendel, que não nos disse uma só palavra, apenas mostrou a língua quando uma de nós perguntou: “O gato comeu a sua língua? Mostra pra eu ver se ela está aí!” Então resolvemos esperá-lo na salinha de recreação. 

Depois tive a sorte de conhecer o Gabriel (6 anos) e a mãe incrível dele, que desde que eu entrei já falou: “Iiih filho, olha quem entrou, uma japonesa gata com brinco no nariz, vira pra ver como ela é linda!” Ele ficava escondidinho debaixo das cobertas e dava uma risada muito gostosa toda vez que eu falava alguma coisa para estimulá-lo a brincar e fazia cosquinhas nele. Em seguida fui falar com outro Gabriel (4 anos), um pouco mais novo que o anterior. Ele me olhou com uma carinha de desconfiado. Pedi para irmos brincar, mas ele fazia que não com o rostinho. Comecei a fazer perguntas de apresentação mesmo e ele foi aos poucos me respondendo e criando confiança. Começou a me contar algumas coisas e até a me desafiar falando: “Me pega e me leva pra lá então que eu quero ver! Duvido você me levantar!”

Finalmente consegui animar aquele baixinho lindo que, apesar de tudo, me presenteou com muitos sorrisos. O garotinho que inicialmente não queria brincar começou a brigar com a mãe, dizendo que queria brincar comigo logo, não queria tomar café e nem tomar banho! Mas com a minha ajuda acabou obedecendo à mãe.

Fomos então para a salinha começar a brincar. Uendel, que foi o primeiro garotinho com quem falamos e estava sempre com um olhar baixo e triste, alguns minutos depois começou a brincar de futebol de mesa com o avô e um voluntário e disse a primeira frase: “Goooool! Eu consegui só porque o meu avô me ajudou, você viu?” Com um sorriso lindo, olhei aquilo de longe e me trouxe uma felicidade inexplicável.

Fiquei brincando com o Gabriel (6 anos), desenhando, ouvindo as histórias engraçadas dele, vendo o quanto ele era criativo inventando brincadeiras e, apesar de estar passando por aquilo tudo, me mostrou ser uma criança feliz, ria o tempo todo. E tinha do lado dele sempre um anjo, uma mãe surpreendente que soltava piadas toda vez que falava, tentando passar alegria paro filho a cada frase. Sem saber, ela me preencheu de alegria também. Infelizmente o almoço chegou mais cedo e o Gabriel mais novo nem pode brincar com a gente.

Esse dia foi mais que especial porque conseguimos levar um pouco de distração por algumas horas e fomos pagos com sorrisos lindos. Saí de lá com uma felicidade enorme dentro de mim mas, ao mesmo tempo, triste por ter que ir embora tão cedo. Cada um deles passou a fazer parte das minhas orações, esse dia ficou marcado pra sempre.

Que cada um possa se doar completamente pra que por alguns instantes se tornem anjos pra cada criança como a que o Gabriel tem todos os dias.

“A todos os que sofrem e estão sós, dai sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração.” (Madre Teresa de Calcutá)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

As escolhas de cada um



Priscila Figueiredo

Gabriel. Nome de anjo. Arcanjo, na verdade. Significa "homem forte de Deus". O meu primeiro dia como voluntária no Hemorio começou com um Gabriel e terminou com outro. O primeiro encontrei deitado na cama, brincando com o celular. Insisti para que ele levantasse, mas não teve jeito. Fui vencida por um celular.

Saí para a sala de recreação e logo encontrei o outro Gabriel. Esse já chegou chorando. Vi que a tarefa de voluntária em um lugar como o Hemorio era mais difícil do que eu imaginava. Como eu faria com que aquela criança esquecesse do dia-a-dia sofrido, do tratamento dolorido, do aparelho que andava atrás dela como uma sombra e, por um momento, escolhesse ser apenas uma criança e brincar?

Planejava escrever este texto no próprio domingo, depois da atividade no Hemorio, mas, felizmente, Deus segurou minhas mãos. Eu não sabia, mas o momento de escrever era hoje. Hoje perdi uma pessoa muito querida que lutava contra o câncer há algum tempo. Adversário ingrato, que enfraquece a pessoa aos poucos, vai sugando a vida de dentro pra fora, fazendo com que ela se torne um rascunho de si mesma, um desenho borrado do que um dia foi.

Durante todo o dia me perguntei o porquê da existência de uma doença tão terrível. Por que pessoas boas precisam passar por essa provação? Mas algumas dúvidas simplesmente não têm explicação. Essa é uma delas.

O nosso trabalho no Hemorio não vai nos ajudar a encontrar a resposta, mas ajuda cada criança que está ali a vencer a guerra contra o câncer. Infelizmente não levamos a cura, mas proporcionamos sorrisos, diversão e momentos de alegria que mostram que naquele lugar ninguém está disposto a se tornar rascunho.

No domingo, o Gabriel sorriu. E brincou. E inventou histórias. E foi criança. Aquele menino que chorava porque não queria brincar voltou a chorar quando eu disse que tinha que ir embora. Não sei como isso aconteceu, mas, de alguma maneira, consegui que ele deixasse de ser paciente e voltasse a ser um menino de quatro anos que queria colorir um desenho. Antes de sair do prédio, dei uma espiadinha e vi que ele já estava mais calmo, distraído por um outro menino e comendo o que sua mãe lhe dava. Não sei quando vou poder voltar ao Hemorio, mas sei que volto. E o meu "anjo Gabriel" vai estar bem, independentemente do que aconteça. Como seu nome diz, ele é forte, e entre se entregar à doença ou pegar um desenho para colorir, eu não tenho dúvida de qual será sua escolha.

Era exatamente isso que o tio Emílio tinha em comum com o Gabriel: uma alegria inocente, um olhar doce e uma capacidade incrível de achar felicidade, ainda que em meio à dor mais profunda. Eu tenho orgulho deles e de todos aqueles que conheci no Hemorio. Eles tinham o direito de ser tristes, mas escolheram não ser. Graças a eles, eu percebi que o câncer pode maltratar o corpo e não chegar nem perto da alma. Basta sorrir, mesmo que por alguns instantes.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O valor de um sorriso



Rafaela Oliveira

Mais uma manhã de domingo no Hemorio, uma manhã como sempre maravilhosa. Cada ida ao Hemorio gera uma expectativa diferente e aquele friozinho na barriga. Esse não foi diferente. Subimos para encontrar as crianças, muitas estavam dormindo, algumas tomando seu café da manhã e apenas três estavam lá prontas para brincar. Fizemos um grande grupo, resolvemos brincar de dominó, um jogo escolhido pela maioria. Enquanto jogávamos, algumas crianças que antes estavam dormindo foram chegando sonolentas para tomar o café e depois brincar.

Enquanto eu jogava percebi um menino sentado e vendo TV, que não queria brincar com a gente. Então fui lá tentar animar o dia dele. Cheguei, dei um 'oi' e perguntei se ele queria brincar. Sem me olhar ele fez com a cabeça que sim e foi comigo até a mesa. Sentou-se do meu lado e ficou observando seu amiguinho brincando com bolinha de sabão. Perguntei se ele queria brincar de bolinha de sabão e novamente ele balançou a cabeça dizendo que sim. E ficou bastante tempo na bolinha de sabão.

Eu perguntava ao Gabriel se ele queria brincar de algum outro jogo e ele balançava a cabeça negando. Tentei outra vez, agora perguntando se queria desenhar ou brincar de massinha, ele mais uma vez disse que não. Ficou um tempo na bolinha de sabão e de repente quis brincar de massinha. Eu perguntava o que ele estava fazendo, ele não respondia. Perguntei se podia ajudar, ele dizia que não. Dava ideias de coisas para fazer com massinha e ele não aceitava, estava muito concentrado nos seus bonecos. Perguntei o nome deles, ele disse que eles não teriam nome e então perguntei o porquê e ele respondeu: porque não.

Fiquei então observando ele fazendo os bonecos. Sério, não falava muito. Quando acabou, perguntei o que ele queria fazer, dei opções de brincadeiras e ele não queria fazer nada. Então pegou os bonecos feitos de massinha e começou a amassar, fazendo dos bonecos várias bolas. Dessa vez perguntei se podia ajudar e ele disse que sim. As bolas ficaram em cima da mesa, então o Gabriel me olhou e perguntou: Tia, será que a gente consegue juntar essas bolas e fazer uma bola beeem grande? Eu disse que ia tentar e comecei a juntar as bolas. Ele ficou olhando e, quando acabei, um lindo sorriso surgiu no rosto do Gabriel: Viu tia, conseguimos!

Eu ganhei a minha manhã com aquele sorriso. Sai de lá com a sensação de missão cumprida, pois consegui ver o Gabriel feliz e radiante.

Cada ida ao Hemorio é uma experiência diferente e especial. Esse dia vai ficar marcado pra sempre.

”O sorriso de uma criança não é algo que se constrói. Não pode ser vendido. Não tem receita. Não tem marca. Não tem bula. Não tem selo. Não tem etiqueta. Portanto, não é falso. Ele é genuinamente verdadeiro.”

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O primeiro de muitos



Luiza Ferreira

Esse domingo foi meu primeiro dia no Hemorio. Imagino que muitos fiquem apreensivos como eu, principalmente na hora da chegada, vendo aquelas crianças lindas que não deviam estar lá. Chegamos muito cedo e, por isso, eles foram aos poucos acordando. O Júlio na mesma hora pulou da cama querendo brincar e bastante animado. Tão bom ver essa animação!

Um dos nossos objetivos é tentar fazer com que eles esqueçam um pouco de onde estão e se divirtam por algumas horinhas da manhã. O que aconteceu foi que eu esqueci onde estava, me divertindo e voltando à infância com as crianças mais doces que havia, querendo brincar, desenhar e fazer bolinha de sabão.

No fim da contas eu sai de lá muito mais feliz e leve do que eu entrei, o tempo voou e, quando vi, já era hora de ir embora. E nessa hora uma notícia boa: o Júlio teve alta!

Espero que quando eu voltar, todos tenham tido alta. Mas se nao tiverem, ficarei muito feliz de passar mais uma manhã de domingo com essas crianças tão especiais e queridas por nós.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Histórias para contar e para ouvir



Rosangela Andrade   

Como sempre, os domingos no Hemorio geram uma expectativa. Nunca sabemos quantas crianças estarão aptas para brincar e se reencontraremos aquelas que já conhecemos

O último domingo não foi diferente! Encontramos uma preguiça geral, também com esse friozinho! E poucas crianças desejaram brincar conosco.

Dentre as poucas que vieram, tive a oportunidade de poder fazer algumas atividades com o Felipe, criança tagarela, espontânea e, dentro das possibilidades, até Feliz.

Dentro das atividades efetuadas, a que mais o Felipe se identificou foi a leitura de historinhas. Além de prestar bastante atenção na história, era totalmente participativo. Aproveitando os fatos do livro que estavam sendo contados, refazia a história com fatos de seu cotidiano. Felipe demonstrou morar em uma comunidade onde a presença de pessoas armadas, a polícia, e a palavra ‘matar’ fazem parte de seu cotidiano.

Infelizmente não podemos mudar a realidade dessas crianças, faz parte de nosso objetivo passar para elas conceitos positivos e corretos, aproveitando as oportunidades e dando toda atenção, amor e felicidade, mesmo que por poucos minutos, para que ela se esqueça da dor, de onde está e do que tem.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O menino Jonas e o seu Jacaré



Lívia del Porto

Numa manhã de domingo nublado e chuvoso, numa cidade quieta e vazia por se tratar de feriado prolongado, nos deparamos com a batalha de espantar a preguiça e ir para mais uma tarefa do Sonhando Juntos.

Após os básicos procedimentos de identificação, subida e higiene, percebemos que as crianças também se encontravam na mesma preguicinha. Vindas de uma noite de sono, friozinho debaixo do cobertor, e nem o cheiro do café as fez levantar de seus leitos.

Com a chegada dos jovens de jaleco colorido, eles são aos poucos convencidos de se levantar e brincar. Uns mais fáceis, outros mais resistentes, alguns preferem tomar um banho antes... Enfim, começamos a colocar a mão na massa e a saber quem seriam nossos companheiros naquela manhã.

Como de costume, fui dar um bom dia a todos em seus leitos. Neste caminhar conheci o Jonas Anderson, de 13 anos, que não queria brincar, a princípio. Ele voltava para seu leito depois de tomar o café da manhã. Na hora, percebi que seria um desafio convencê-lo a fazer alguma coisa. Primeiro porque nessa idade eles só fazem o que realmente querem; segundo porque eu achava que tinha habilidades apenas para as crianças menores; e terceiro porque ele estava bemmm cansado, em consequência das últimas sessões de quimioterapia, como me contou sua mãe.

Pois são nessas manhãs que nossas certezas e medos são colocados à prova. E mais uma vez voluntário vira aprendiz das crianças na pediatria do Hemorio.

Nossa primeira brincadeira foi o dominó. Umas cinco partidas rápidas e eu pensei que ele já ficaria satisfeito e fosse querer dormir novamente. Perguntei então se ele queria fazer uma dobradura de papel e Jonas surpreendentemente topou. Ao folhearmos o manual explicativo, mostrando todas as possibilidades, Jonas não teve dúvidas: “Quero fazer o jacaré!”

O passo-a-passo já era por si só bem complexo, mas fomos indo... pouco a pouco... superando as dificuldades de cortar, colar e dobrar com a mão esquerda (devido aos medicamentos estarem presos a mão direita). Aos poucos os papéis verde e amarelo foram dando o formato do corpo, da cauda, depois das patas e, por fim, fizemos os olhos e a grande boca cheia de dentes.

Levamos mais de uma hora nessa atividade, mas o resultado valeu a pena. Deixou o menino orgulhoso da sua obra prima! Ele prometeu guardar o jacaré em sua casa, em Petrópolis, junto às árvores de tangerina e laranja do seu quintal.

Missão cumprida, objetivo alcançado. Com a técnica milenar japonesa fizemos arte com papel, resgatando a alegria e a disposição do Jonas nesta manhã. Seus vizinhos da pediatria também queriam conhecer o jacaré, que ficou famoso naquele andar e recebeu algumas visitas, posou para fotos e depois foi descansar.

Valeu Jonas! Que bom que eu estive hoje aqui para aprender com você!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Um sorriso pode mudar tudo


Cecília Sampaio

Qual não foi minha surpresa ao ver as meninas sentando-se nas cadeiras, tão tímidas, mas já pegando cada uma os seus livros escolhidos e começando a leitura.

A atividade "Contadores de histórias" ficou um pouco sem sentido pra mim. Não precisei contar nada, nem mesmo qual seria a atividade! Os livros estavam ali, disponíveis nas mesas. Mas não faz sentido para crianças de sete a 10 anos ter alguém para fazer por elas as coisas que elas já fazem tão bem. E a leitura fluiu. Silenciosa. Barulhos apenas dentro daquelas cabecinhas, e da minha também, lendo as histórias desconhecidas, vendo as figuras coloridas. Todas muito compenetradas e sérias. Estranhei demais.

Eu estava agoniada, querendo mais. Eu queria bagunça! Sentar-me no chão, sujar os dedos de tinta, amassar a massinha. A criança ali era quem mesmo?

Com o tempo, conforme a leitura fluia, me acalmei. Junto à Sarah, terminei a leitura de um livro que contava a história de uma menina que, ao perceber uma cidade muito barulhenta, briguenta e cinzenta, dá uma oportunidade à reflexão, sozinha, silenciosa e então chega à conclusão de que apenas um sorriso pode mudar tudo isso, transformando aquela cidade em uma FelizCidade!

Ao meu comando, desenhos foram feitos. Ai sim, começou uma baguncinha. Oba! Folhas de papel pra cá, lápis pra lá, comentários daqui, e tudo voltou ´ao normal` de uma atividade na Casa de Apoio. Sorrisos, risadas, enfim uma gargalhada. E barulho! Como é bom conversar com essas crianças. Ouvi-las reproduzindo as histórias que acabaram de conhecer, dando ênfase às partes que mais gostaram, e ver nelas o prazer de desenhar, de colocar no papel aquele sorriso que conseguiu transformar uma cidade inteira, e o nosso dia também.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Manhã de domingo


Daniela de Faria

A manhã de domingo se transforma com a nossa chegada, o que era tristeza se transforma em alegria, a dor desaparece, o sorriso toma conta dos rostinhos, os tratamentos de saúde passam a fazer efeito mais rápido e a euforia transforma o am­­biente.

Os funcionários do hospital também se alegram e se contagiam. Percebe-se na feição deles. Seja com gestos ou com suas próprias tarefas que são intensas. O contato com as crianças é mágico!

Pacientes que são crianças ou pré-adolescentes que quando nos vêem acordam e saltam das camas e cadeiras para interagir. Em alguns ca­­sos os acompanhantes das crian­­ças também se divertem junto com os pequenos e as gargalhadas ecoam levando o vírus da alegria.

Essa mágica acontece com poucos ingredientes no bolso: amor, alegria, sorriso e felicidade! Estamos vivos e com saúde, podemos proporcionar uma manhã linda para quem está ali passando por um momento tão delicado e, muitas vezes, incompreensível pela pouca idade que têm.

Nesta manhã, minha melhor amiga chamava-se Ellen, de quatro anos. Ellen, tão pequena e tão sincera. Seus olhos eram perfeitos, cor de mel com brilho imensurável, demonstrando uma criança maravilhosa!

Passar algumas horas brincando, montando, pintando, foi um verdadeiro presente! Temos que ter a capacidade de improviso, de­­dicação, criação, habilidade para lidar com emoções que vão da euforia à depressão, com o emocional no caso de rejeição, empatia e muito bom humor. Essas são algumas das características que acontecem durante as atividades do Sonhando Juntos, quando visitamos o hospital, para alegrar até quem não é paciente.

Saímos pela manhã com a certeza de tirar ao menos um sorriso do rosto de cada criança.
Porém, nem sempre é possível. Mas sabemos que somos amados por Deus e queridos por Ele e quando fazemos algo com amor e com o coração, ganhamos não só sorrisos, mas também gargalhadas naquelas poucas horas proporcionadas. Que alegria!

Aquela menina meiga, manhosa, que antes não queria tirar fotos, não saia de perto de seu pai. Já não queria que os 'tios' fossem embora e qualquer brincadeira era motivo de festa e muitos sorrisos.
Voltamos para nossa casa felizes com missão de levar alegria e ver belos sorrisos.

sábado, 19 de maio de 2012

Que gente grande saiba ser criança



Elisa Ramone

Sábado, véspera de dia das mães, nove e meia da manhã. Voluntários aglomeram-se na sala para repassar a atividade do dia: escrever cartinhas em formato de coração e decorar pregadores para dar de presente às mamães. Tudo pronto, que entrem as crianças.

Como de costume, elas entram aos poucos, ainda meio tímidas, e vão ocupando as cadeiras, sentando-se às mesas, tomando a sala que logo será – e todas elas em sua ingenuidade sabem disso – o palco de seu espetáculo, o espaço livre para sua imaginação. A timidez inicial é, na verdade, a expectativa da libertação que elas trazem em si, no ineditismo de seus olhares, mas que só compartilham com quem julgam merecer, com quem aceita também enxergar como elas no mundo conhecido um mundo novo.

Os voluntários provavelmente ainda nem sequer notaram o sopro de fantasia que invadiu a sala no momento em que a porta foi aberta para as crianças. Eles, por estarem muito preocupados com a execução da atividade, ainda não perceberam essa loucura sadia que cada uma delas exala no ar, inconsciente e naturalmente, pela simples atividade biológica de existir. Eles nem mesmo imaginam que estão prestes a ficar saudavelmente loucos também.

Voluntários novos rapidamente quebram o gelo, vencem a inibição e começam a construir seus laços com os pequenos, enquanto os antigos vão refinando as amizades já conhecidas das outras visitas, matando as saudades das crianças e dessa experiência transformadora que, mesmo já vivida outras vezes, parece sempre se renovar de forma diferente. Entre um abraço e outro, entre sorrisos e palavras trocadas, sem que se perceba, os adultos vão se entregando à alegria e à imaginação das crianças, vão se tornando também crianças, abrindo seus olhos de ver, liberando seus ouvidos de escutar e adquirindo uma leveza da qual só se lembravam como uma recordação distante da infância. O contágio é inevitável. A insensatez é irresistível. Aquele sopro fantástico, a essa altura, já virou um vento, invisível e fresco, que percorreu todo o ambiente, despertou a imaginação dos voluntários, ativou a criatividade das crianças e foi misturando as alegrias de cada um em uma única e onipresente brisa de contentamento que envolve tudo naquela sala.

Agora, ao mesmo tempo que dedinhos cheios de cola transformam uma folha branca com formato de coração em um rosto e que florezinhas de borracha viram olhos, nariz e sorriso; outras mãos desenham a caneta os bigodes do gatinho laranja que um dia fora um pregador. Enquanto isso, um pequeno Power Ranger vermelho circula por ali, salvando aqueles poucos que ainda não se renderam à fantasia, trazendo-os para esse universo novo que só as crianças são capazes de desvendar. Do outro lado da sala, um feiticeiro mascarado lança encantos sobre todos que cruzam seu caminho, para que ninguém ouse tentar sair desse mundo mágico.

Daí em diante, tudo é sonho. Homem-aranha e Power Ranger se unem contra um voluntário-gigante em uma luta que termina, como não podia deixar de ser, em abraço triplo. Depois, o pequeno Power Ranger vermelho sobe no voluntário-megazord e sai distribuindo ataques de beijos, salvando o dia na Casa de Apoio. 



Então, o tempo voa na capa dos super-heróis, e a atividade chega ao fim. Voluntários e crianças são agora amigos e cúmplices, porque compartilharam um mundo mágico que ninguém mais conhece e que criaram juntos. As outras pessoas não vão acreditar, vão dizer que isso de magia e mundo encantado não existe, é só brincadeira de criança.  Mas é porque elas ainda não sabem que cada um vive no mundo que cria para si e que é só tirar as vendas dos olhos para enxergar que tudo o que existe pode ser transformado pela forma como decidimos interpretar o que nos cerca.  Essas crianças nos enfeitiçam com a certeza que elas têm de que basta olhar cada coisa como uma descoberta para que tudo a nossa volta se transforme.