quarta-feira, 18 de julho de 2012

“Vidas alheias e riquezas salvar”

Lívia del Porto

Com este lema, usado para resumir a missão do Corpo de Bombeiros, começamos nossa manhã de sábado para realizar também uma missão: o sonho do João Lucas.

Este sonho foi cuidadosamente planejado e organizado por muitos voluntários do Sonhando Juntos durante muitos meses. As funções foram divididas: festa de aniversário surpresa, visita ao quartel, presentes, etc. No entanto, nosso amiguinho passou por momentos muito difíceis no seu tratamento e o sonho foi sendo adiado. Quem pode ir ao Hemorio nos últimos dois meses certamente pode notar como o João estava cansado e abatido...

Daí surgiu a oportunidade de realizar uma parcela do sonho, ainda durante a internação. E então, mais uma vez, os voluntários se organizaram para levar até o João Lucas um gostinho de felicidade, para que essa pudesse ser uma mola propulsora da sua recuperação. E foi exatamente assim que percebemos durante a realização do sonho dele.

Chegamos ao Hemorio às08h30 e, depois de vencido o primeiro obstáculo para a liberação dos três bombeiros, subimos para o 7º andar (a pediatria está em reforma e as crianças estão na área juvenil). Ao entrar no leito do João, que dividia o espaço com o pequeno Thiago, de 1 aninho, encontramos a felicidade da mãe e do irmão, enquanto o próprio João parecia não ter se comovido com aquela visita especial.

Novamente percebemos como nosso caminho está marcado por pessoas do bem e dispostas a colaborar para a doação e o bem ao próximo. Foi quando um dos bombeiros conseguiu se aproximar, numa conversa “de homem pra homem”, e ganhar a confiança do João. Depois disso ficamos quase uma hora ouvindo as histórias dos resgates, das especialidades, da rotina do quartel e da carreira desses bravos guerreiros.

Saimos de lá com a certeza de que a felicidade materializada nos presentes dados ao João Lucas (camisa, boné, medalhas e livro) não foi nada se comparada ao brilho nos olhos e no coração tocado pela ideia de sair do hospital e poder acompanha-los até o quartel, entrar nas viaturas e conhecer tudo de pertinho.

João decidiu com muita certeza que quer ser combatente! E nós temos convicção de que isso se realizará, pois na luta da vida ele já se mostra um grande vencedor!

Agradecemos ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, representado pelos Sargentos Caetano, Dutra e Leonardo, pois além de toda capacidade profissional que demonstram a cada dia para nossa sociedade, também foram heróis para uma criança, demonstrando estimados valores que certamente contribuíram para o sucesso deste sonho e para a felicidade do João Lucas.
Agradecemos ao esforço de cada voluntário e da coordenação do SJ, que pacientemente fez todos os contatos possíveis com a família e com o Hemorio, para tornar esse dia realidade. O gostinho de realizar este (primeiro para alguns) sonho nos enche de esperança, orgulho e disposição para encarar os próximos!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O dia em que João virou bombeiro

Mariana Bueno


"Tudo o que um sonho precisa para ser realizado
é alguém que acredite que ele possa ser realizado."
(Roberto Shinyashiki)

A empolgação para realizar mais um sonho esteve presente desde o primeiro momento, quando descobrimos que o garoto João Lucas, então com 10 anos, paciente do Hemorio, queria ser um bombeiro. Voluntários engajados, ideias estruturadas, contatos feitos, presentes comprados... Tudo pronto para que o sonho acontecesse bem no dia do aniversário de 11 anos dele, com direito a passeio no quartel dos bombeiros, lanche com decoração temática, bolo, guloseimas, parabéns e, claro, muita festa. Mas aí veio uma recaída da leucemia e tivemos de adiar tudo, sem data para ser retomarmos. Ficamos sem saber o que e como fazer. Até que surgiu a ideia: se João não pode ir até os bombeiros, por que não levar os bombeiros até ele? Era a hora de replanejar o sonho de uma forma diferente.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) foi totalmente parceiro. Toparam na hora e a visita foi então combinada. Três bombeiros iriam acompanhar o grupo de voluntários do Sonhando Juntos ao Hemorio e mais um sonho seria realizado, mesmo que de um jeito meio improvisado, totalmente diferente do que nós mesmos havíamos sonhado, mas dentro do possível para levar um pouco de alegria para o João Lucas.

Durante todo o processo de realização do sonho estive em contato com a mãe dele, dona Luzia. Ela largou tudo na cidade onde moram (Macuco, região serrana do estado) - emprego, marido e outros dois filhos mais velhos - e veio para o Rio de Janeiro cuidar da saúde do filho, em dezembro do ano passado. Há dois meses estão direto no hospital. Ela passa 24 horas com ele, dorme em uma poltrona do lado da cama de João. Um período longo, cheio de altos e baixos. Chorei junto com ela quando a notícia era de um estado quase terminal, sorri e senti vontade de abraçá-la quando aos poucos ele foi apresentando alguma melhora.  Era com Luzia que eu falava para combinar todos os detalhes da surpresa que no último sábado, enfim, aconteceu.

João Lucas viveu a emoção de ser bombeiro por um dia. Ainda que na cama, ainda que num quarto de hospital, ainda que sem poder andar... Durante aquele tempinho que passamos lá, não havia problemas ou preocupações. Estávamos todos dentro de um mundo mágico, onde não há tristeza, não há doença. Um mundo mágico onde todos os sonhos são possíveis.

Os voluntários já estavam presentes no quarto quando os bombeiros entraram. Quieto, até mesmo em decorrência de pesados exames feitos no dia anterior, e sonolento, pois era bem cedo, ele recebeu os presentes do SJ: uma camisa e um boné e um botom oficiais dos bombeiros e um livrinho infantil sobre o tema. E os próprios bombeiros levaram ainda duas medalhinhas da corporação como lembrança. João recebeu tudo ainda tímido. Com a ajuda da mãe e do irmão, vestiu a nova roupa. A partir de então, começou a se sentir um bombeiro de verdade. Aos poucos foi ficando mais solto. Ouvia com atenção as muitas histórias que os bombeiros contavam e, curioso, fazia perguntas: Como é apagar o fogo? Tem que sair do quartel com o carro bem cheio de água, né? E como eles avisam que tem uma emergência? Vocês já salvaram algumas vidas?

Superatenciosos, os bombeiros Leonardo, Dutra e Caetano contavam mais e mais histórias, envolvendo até mesmo os voluntários presentes, que também tinham muitas curiosidades e perguntas para fazer. Disseram a ele que, assim que tiver alta, um carro dos bombeiros irá buscá-lo e levá-lo para um passeio no quartel. Com palavras motivadoras, incentivaram João a ter cada vez mais forças para lutar e sair logo desta situação. Compararam sua estada no hospital com uma emergência dos bombeiros. Você não quer estar ali, aquele lugar não é legal, mas você transforma o medo em coragem para enfrentar, pois sabe que só poderá sair de lá quando tudo estiver resolvido. Assim é também com o João, que prometeu transformar qualquer tristeza em alegria, para se recuperar logo. Palavra de bombeiro!

sábado, 14 de julho de 2012

Tudo valeu a pena




Feliphe Fugimura

Aqui estou eu, no Shopping Downtown, andando na chuva, sozinho e rindo! Como? Rindo? Em outros momentos eu correria para o meu destino ou esperaria seco, quente e quieto em um local "seguro".

Mas desde o dia 8 de julho a chuva me traz tantas alegrias, tantas boas lembranças, que decido seguir calmamente e quase que fechar os olhos (mais do que o normal) relembrando o que é o Sonhar Acordado, o que essa ONG sensacional me traz, como o trabalho voluntário é renovador e, principalmente, como é bom ser criança.

Ter jovens de locais, educação, condição financeira e religiosidade tão distintas, e o pior, que mal se conhecem, juntos em função de um objetivo comum é extremamente empolgante.

Nós da coordenação somos no total um pouco mais de 20 jovens que dedicamos nosso tempo há pouco mais de três meses para dar todas as condições para que esse sonho acontecesse. Durante o caminho nos descabelamos, estressamos, brigamos, nos doamos demais e confesso que várias vezes até pensei se realmente valia a pena, se eu estava no caminho certo, se perder provas para dar formação e quase ser reprovado em diversas matérias da faculdade por falta de concentração tinha um real objetivo e o quanto era válido.

Até que chegamos no dia 8 de julho ansiosos, esperançosos e vimos que toda essa correria e esforço valeu a pena. Ter essa multidão de pessoas que sairam dos seus lares debaixo de chuva, que têm orgulho de vestir aquela camisa branca, amarela e vermelha nos renova, nos prepara para mais 15 festas e nos faz querer crescer e buscar atender 900, 1000, 2000 crianças!

E a chuva? Não diminuiu em nada a alegria das crianças pequenas e de nós, crianças grandes. Muito pelo contrário, deixa chover. Chove chuva, chove sem parar!

Espero todos na próxima! MUITO OBRIGADO!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mari & Duda

Mariana Rodrigues

Marinheira de primeira viagem? Talvez pela chuva me senti um pouco como marinheira, mas o nervosismo de participar pela primeira vez de um grande evento do Sonhar Acordado passou no momento em que botei meus pés no sítio. Logo vi centenas de voluntários que, assim como eu, não se importavam com a chuva, ou em acordar cedo num domingo. Isso era um pequeno detalhe do dia maravilhoso que ia acontecer, que NÓS íamos fazer acontecer. Confesso que naquele momento comecei a correr e pular que nem criança e quando os ônibus com aqueles anjinhos começaram a chegar... Nada explica esse sentimento de ansiedade e euforia!

O primeiro ônibus encostou com as crianças cantando um “hino” de homenagem ao Sonhar Acordado. Foi quando pensei que, por mais que o Dia do Sonho seja “apenas” um diazinho, realmente faz diferença para aquelas crianças, que passam meses esperando ele chegar. Acredito que todos os voluntários, além de emocionados, ficaram ainda mais animados na fila, gritando, pulando, fazendo até uma “ola” improvisada. Difícil distinguir quem estava mais feliz por estar ali.

Finalmente pude abraçar minha nova amiga, Maria Eduarda,  Duda para os mais íntimos. A Duda tem cinco aninhos, e faz parte do programa Amigos para Sempre. Quando perguntei o nome dela e ouvi a resposta bem fraquinha com a cabeça baixa pensei que precisaria de um bom plano para tirar a timidez da Duda. Mas logo peguei ela pela mão, saímos correndo no meio dos voluntários e não paramos mais até o fim do dia! Brincamos de pique pega, de corrida, dançamos, seguimos as coreografias, fomos no pula-pula, cama elástica e na pintura de rosto, onde ela se transformou numa borboleta linda, voando por aquele dia chuvoso.

Quando anunciaram que o nosso dia estava chegando ao fim e a Duda começou a esfregar os olhinhos perguntando se tínhamos que ir embora, se íamos nos ver no dia seguinte, foi difícil controlar a emoção. Realmente, apesar do cansaço, eu também não queria que acabasse. Pensar que aquele laço tão forte que criamos ia acabar assim, no mesmo dia? Quase que abri o chororô!
Foi aí que entendi de verdade o que é o Dia do Sonho. “Não Duda, não vai acabar. Você vai lembrar amanhã da tia, não vai? Vai lembrar de como nos divertimos hoje, quantos motivos temos pra sermos felizes? Então, a tia também vai lembrar de você amanhã, e depois, e depois... Nós somos amigas, não vamos nos  ver amanhã, mas sempre que tiver saudade pode fechar os olhos e lembrar do nosso dia tão especial, e aí vamos estar juntas de novo! E na próxima festa quem sabe não nos encontramos? Você vai vir brincar com a gente de novo?”

A tia Mari com certeza vai voltar pra brincar com a Duda e com todas as outras crianças especiais que estavam ali sempre que puder e, com certeza, vai se lembrar da Duda sempre que sentir saudade. É um dia que você se lembra pra sempre!

Eu agradeço ao Sonhar Acordado e a todos os colaboradores que possibilitaram esse dia tão especial. Acho que quem está de fora não tem noção do bem que isso faz na vida de uma criança e principalmente no coração de um voluntário.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dia do Sonho 2012

Leonardo Pereira:
"Na minha primeira vez no Dia do Sonho tive o grande prazer também de poder ir no ônibus com as crianças. Fiquei tão feliz que não vejo a hora de poder ir novamente a mais um evento do Sonhar Acordado. Adorei tudo, fiquei muito honrado de ter visto tantas pessoas querendo fazer o bem, já que hoje é uma coisa um pouco difícil de se ver. Durante a festa fiquei com um garotinho de seis anos que adora futebol e era muito, mas muito agitado mesmo. Gostaria muito de agradecer e parabenizar a todos os criadores do evento e dizer que vocês são pessoas muito iluminadas e abençoadas. Gostaria de deixar aqui também a minha grande satisfação de poder ter ido no ônibus, porque foi ali que meu coração começou a bater mais forte de tanta felicidade. Quando cheguei no sitio parecia que iria explodir (risos). Muito obrigado a TODOS que puderam me proporcionar tamanha felicidade."


Nathália Almeida:"Sujas???? Pode ate parecer, mas o que estamos na verdade é limpas, renovadas, por um dia com centenas de crianças, várias gargalhadas e a toda hora aquele "Oh tia, oh tia", com muitos sorrisos e alegria! Tudo graças ao Dia do Sonho. Voltar a ser criança e fazer a alegria de muitas crianças é inexplicavel. Palavras não sao capazes de resumir, só vivendo e sentindo. Jogar bola, comer besteiras, correr na grama, pular, brincar, dançar, se jogar na lama literalmente...rs Tudo isso mostra que nem todo o mundo está perdido, ainda existe esperança. Parabéns ao Sonhar Acordado, um lindo trabalho, um dia mágico nao só para as crianças, mas para todos nós que fizemos parte e compartilhamos dessa alegria!!!"


Renata Cabral:
"Minha primeira vez no Dia do Sonho e conheci a Carol, uma garotinha super tímida que mal me dizia em qual brinquedo queria ir. E de repente eu pergunto: 'Vamos fazer uma pintura no rosto?' Os olhos brilharam e junto com aqueles olhinhos a pergunta: 'Tia você vai fazer também, né?' Pintamos, corremos, brincamos na chuva e sonhamos!!! No final, uma certeza: 'Até a Festa de Natal, tia!' Nos vemos lá Carol!!!"



Uyla Garcia:
"Mais um Dia do Sonho. Frio, chuva, muita chuva e eu morrendo de ansiedade. Os voluntários já chegaram brincando, jogando bola, correndo pelo gramado, na chuva mesmo. E lá fui eu esperar as crianças, uma em especial. Assim que ela desceu do ônibus, começou meu dia. Corri, dancei, rodei. Ninguém parecia notar a chuva que caia. Foi o Dia do Sonho mais incrível que participei. Eram crianças e voluntários virando crianças. Fui embora sorrindo por aquele dia e sorrindo ainda mais por saber que ano que vem tem mais."


Victor de Paula:
"Um domingo fechado, chovendo, ótimo para ficar em casa dormindo, né? Com certeza sim, mas não importam as circunstâncias, era o Dia do Sonho. O que não faltou foi ânimo e força de vontade para acordar cedo, chegar lá, jogar futebol, me sujar de lama e carregar os “pequenos” Diego e Paulo no ombro. Eu já os conhecia, então já sabia o que me esperava. Paulo, com seu jeito mais tímido, mais quieto, um pouco receoso com a chuva. Já Diego nem se importava, com chuva ou sem, 0° ou 100°, ele queria brincar, jogar futebol. Mesmo que de maneiras diferentes, era possível enxergar a alegria em seus rostos e seus gestos. E não só dos dois! É uma sensação indiscritível você poder olhar para o lado e ver incontáveis crianças felizes, brincando, sorrindo, felicidade que talvez seja proporcionada a elas poucas vezes. Apesar de sair de lá sujo e cansado, o mais importante foi que saí feliz, não só por ter proporcionado felicidade às crianças, acho que mais ainda pela felicidade que elas me proporcionaram depois de um dia inteiro."


Bianca Bellas:"O Dia do Sonho foi maravilhoso como sempre, mas este ano teve um gostinho especial pra mim porque já fazia um tempo que eu não via as crianças da Jesus de Nazaré (instituição que eu trabalho no Amigos para Sempre) e acho que mais do que aproveitar a festa, o que eu mais queria era poder revê-las. Mesmo com a chuva, o frio e toda aquela lama as crianças aproveitaram muito, sem contar os muitos brinquedos que tinham, as bolas, as quadras e tudo mais. Pra mim o melhor momento deste dia é quando paro e vejo o quanto as crianças estão se divertindo. Para qualquer lugar que você olhe só vê crianças correndo, pulando, sorrindo e contentes por estarem em um lugar diferente, com outros amiguinhos e, o mais importante, cheio de tios que estão, pelo menos naquele dia, dispostos a fazer o que for possível para a felicidade deles e para tornar um dia inesquecível."



Rafael Peclat:
"Este ano o Dia do Sonho foi muito especial. Dessa vez participei como apoio, pintando o rosto das crianças. Foi uma experiência muito legal, tive a oportunidade de conversar um pouquinho com cada uma delas. Apesar da chuva e do frio, todas pareciam bem empolgadas com as atividades. Enfrentaram a fila curiosas para verem seus rostos decorados. Entre borboletas, flores, Hulks e Homens de Ferro, os pequenos saiam do quiosque, onde os voluntários se empenhavam na arte, se sentindo verdadeiros heróis e princesas. Fiquei feliz de ver o empenho dos voluntários e dos organizadores presentes em fazer a festa acontecer apesar das adversidades, principalmente do tempo chuvoso. As atividades estavam bem legais. Os brinquedos estavam muito divertidos e as crianças estavam felizes. Para mim a oportunidade foi incrível, já que conheci diversas crianças com personalidades diferentes. Com certeza valeu a pena."

segunda-feira, 9 de julho de 2012

As muitas festas de Rebeca e Ellen



Giulia Gomes

A primeira vez que fui a uma formação do Sonhar Acordado, me lembro perfeitamente, me perguntava o que um dia de diversão extrema poderia trazer de mudança efetiva na vida de uma criança. Não via muito sentido em me esbaldar de brincar por um dia e depois nunca mais ver aquele pimpolho que tratei durante algumas horas como um filho meu. Ouvi o discurso incentivador dos líderes e coordenadores chamando atenção para os detalhes daquele dia. “Preste atenção em cada exemplo” – eles diziam. “Faça com que este dia marque a vida deste pequeno.”

Não fui capaz de absorver por completo aquelas palavras naquele momento. Mas fui e fiz o melhor de mim. Me entreguei 100% ao meu propósito de estar ali e me diverti muito. Três anos se passaram e a vida foi me levando por caminhos difíceis e trabalhosos. Mas todos os anos eu guardo os dias de festa do Sonhar Acordado como uma imensa responsabilidade para mim, independente do quão atarefada eu esteja.

E ontem, depois de muitas festas, eu pude descobrir a resposta das minhas muitas perguntas daquela primeira formação. Já faz cinco festas que eu fico com as mesmas duas meninas da instituição “Cantinho da Natureza”, de Copacabana. Rebeca e Ellen. Ficamos juntas numa festa e nos encantamos. E em todas as festas contamos os dias pra ficarmos juntas durante aquelas horas.
Eu pude ao longo desses últimos anos observar o crescimento das duas. A Rebeca tinha oito anos na primeira vez que pegou minha mão e me disse: “Tia, você vai ficar comigo, né?!” Na festa seguinte, nós duas resolvemos cuidar da Ellen. Uma menininha meiga e pequenina, na época com cinco anos, participando de sua primeira festa. Me encantei com a maturidade de Rebeca, tão jovem e tão madura, cuidando da Ellen como se fossem irmãs.

Esse ano, como todo ano desde então, conto os dias para ver minhas pequenas. Mas esse ano, algo mudou... A Rebeca ultrapassou a idade limite e não pode nos acompanhar no Dia do Sonho. Me deixou cuidando da Ellen, sentindo todo o peso da responsabilidade que ela sempre me ajudou a carregar. Sentimos muito a falta dela. Pude perceber nesse momento a dimensão de um dia. E vi a importância que aquilo tinha para nós três.

E nesse Dia do Sonho de 2012, a Ellen me surpreendeu muito! Ela se lembrou de todas as orientações que eu dei pra ela no primeiro dia que ficamos juntas. Ela agora se apressa para pegar o lixo do chão, mesmo quando não foi ela que deixou cair. E já sabe direitinho que não pode encostar na tampa de um vaso sanitário desconhecido... corre pra lavar as mãos assim que sai do banheiro. Sabe esperar pela sua vez numa fila longa e sabe definir quando vale a pena ou não esperar nessa fila. A minha menininha está crescendo... mas o brilho no olhar dela quando me vê mais uma vez continua o mesmo. Continuamos sonhando acordadas! Sempre e sempre! E já planejo o dia de abraçar as duas mais uma vez.

E só consegui manter esse contato certo com as minhas meninas durante essas festas porque desde o início me voluntariei para ajudar na organização dos ônibus da instituição. Todo ano é uma bagunça boa!  Adoro encontrar com todas aquelas crianças bem cedinho, poder abraçar cada um daqueles pimpolhos e conhecer um pouco de cada um deles. Viajar até o local da festa ao som das novas e velhas cantigas de passar o tempo e explorar a minha imaginação para entreter um monte de pequenos inquietos num ônibus, poder ver o olharzinho ansioso deles e saber que durante a festa não terei apenas uma ou duas crianças para brincar.  Eu passo a ter 40, 50!!! Todas elas passam por mim, me abraçam, me chamam para me divertir com elas e com os “seus” voluntários.  Experiência riquíssima para mim, que eu faço questão de repetir em todas as festas. Fazer parte disso me faz muito feliz!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Anjos por algumas horas



Carina Endo

Aguardei ansiosa a chegada do meu primeiro dia de visitas no Hemorio, com aquele frio na barriga e aquela apreensão por não ter ideia do que me esperava naquela manhã. Depois dos procedimentos higiênicos fomos aos pouquinhos acordando as crianças, dando o nosso bom dia com um sorriso gigante e todas estavam tímidas. No primeiro leito falamos com o Uendel, que não nos disse uma só palavra, apenas mostrou a língua quando uma de nós perguntou: “O gato comeu a sua língua? Mostra pra eu ver se ela está aí!” Então resolvemos esperá-lo na salinha de recreação. 

Depois tive a sorte de conhecer o Gabriel (6 anos) e a mãe incrível dele, que desde que eu entrei já falou: “Iiih filho, olha quem entrou, uma japonesa gata com brinco no nariz, vira pra ver como ela é linda!” Ele ficava escondidinho debaixo das cobertas e dava uma risada muito gostosa toda vez que eu falava alguma coisa para estimulá-lo a brincar e fazia cosquinhas nele. Em seguida fui falar com outro Gabriel (4 anos), um pouco mais novo que o anterior. Ele me olhou com uma carinha de desconfiado. Pedi para irmos brincar, mas ele fazia que não com o rostinho. Comecei a fazer perguntas de apresentação mesmo e ele foi aos poucos me respondendo e criando confiança. Começou a me contar algumas coisas e até a me desafiar falando: “Me pega e me leva pra lá então que eu quero ver! Duvido você me levantar!”

Finalmente consegui animar aquele baixinho lindo que, apesar de tudo, me presenteou com muitos sorrisos. O garotinho que inicialmente não queria brincar começou a brigar com a mãe, dizendo que queria brincar comigo logo, não queria tomar café e nem tomar banho! Mas com a minha ajuda acabou obedecendo à mãe.

Fomos então para a salinha começar a brincar. Uendel, que foi o primeiro garotinho com quem falamos e estava sempre com um olhar baixo e triste, alguns minutos depois começou a brincar de futebol de mesa com o avô e um voluntário e disse a primeira frase: “Goooool! Eu consegui só porque o meu avô me ajudou, você viu?” Com um sorriso lindo, olhei aquilo de longe e me trouxe uma felicidade inexplicável.

Fiquei brincando com o Gabriel (6 anos), desenhando, ouvindo as histórias engraçadas dele, vendo o quanto ele era criativo inventando brincadeiras e, apesar de estar passando por aquilo tudo, me mostrou ser uma criança feliz, ria o tempo todo. E tinha do lado dele sempre um anjo, uma mãe surpreendente que soltava piadas toda vez que falava, tentando passar alegria paro filho a cada frase. Sem saber, ela me preencheu de alegria também. Infelizmente o almoço chegou mais cedo e o Gabriel mais novo nem pode brincar com a gente.

Esse dia foi mais que especial porque conseguimos levar um pouco de distração por algumas horas e fomos pagos com sorrisos lindos. Saí de lá com uma felicidade enorme dentro de mim mas, ao mesmo tempo, triste por ter que ir embora tão cedo. Cada um deles passou a fazer parte das minhas orações, esse dia ficou marcado pra sempre.

Que cada um possa se doar completamente pra que por alguns instantes se tornem anjos pra cada criança como a que o Gabriel tem todos os dias.

“A todos os que sofrem e estão sós, dai sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração.” (Madre Teresa de Calcutá)