segunda-feira, 11 de junho de 2012

O menino Jonas e o seu Jacaré



Lívia del Porto

Numa manhã de domingo nublado e chuvoso, numa cidade quieta e vazia por se tratar de feriado prolongado, nos deparamos com a batalha de espantar a preguiça e ir para mais uma tarefa do Sonhando Juntos.

Após os básicos procedimentos de identificação, subida e higiene, percebemos que as crianças também se encontravam na mesma preguicinha. Vindas de uma noite de sono, friozinho debaixo do cobertor, e nem o cheiro do café as fez levantar de seus leitos.

Com a chegada dos jovens de jaleco colorido, eles são aos poucos convencidos de se levantar e brincar. Uns mais fáceis, outros mais resistentes, alguns preferem tomar um banho antes... Enfim, começamos a colocar a mão na massa e a saber quem seriam nossos companheiros naquela manhã.

Como de costume, fui dar um bom dia a todos em seus leitos. Neste caminhar conheci o Jonas Anderson, de 13 anos, que não queria brincar, a princípio. Ele voltava para seu leito depois de tomar o café da manhã. Na hora, percebi que seria um desafio convencê-lo a fazer alguma coisa. Primeiro porque nessa idade eles só fazem o que realmente querem; segundo porque eu achava que tinha habilidades apenas para as crianças menores; e terceiro porque ele estava bemmm cansado, em consequência das últimas sessões de quimioterapia, como me contou sua mãe.

Pois são nessas manhãs que nossas certezas e medos são colocados à prova. E mais uma vez voluntário vira aprendiz das crianças na pediatria do Hemorio.

Nossa primeira brincadeira foi o dominó. Umas cinco partidas rápidas e eu pensei que ele já ficaria satisfeito e fosse querer dormir novamente. Perguntei então se ele queria fazer uma dobradura de papel e Jonas surpreendentemente topou. Ao folhearmos o manual explicativo, mostrando todas as possibilidades, Jonas não teve dúvidas: “Quero fazer o jacaré!”

O passo-a-passo já era por si só bem complexo, mas fomos indo... pouco a pouco... superando as dificuldades de cortar, colar e dobrar com a mão esquerda (devido aos medicamentos estarem presos a mão direita). Aos poucos os papéis verde e amarelo foram dando o formato do corpo, da cauda, depois das patas e, por fim, fizemos os olhos e a grande boca cheia de dentes.

Levamos mais de uma hora nessa atividade, mas o resultado valeu a pena. Deixou o menino orgulhoso da sua obra prima! Ele prometeu guardar o jacaré em sua casa, em Petrópolis, junto às árvores de tangerina e laranja do seu quintal.

Missão cumprida, objetivo alcançado. Com a técnica milenar japonesa fizemos arte com papel, resgatando a alegria e a disposição do Jonas nesta manhã. Seus vizinhos da pediatria também queriam conhecer o jacaré, que ficou famoso naquele andar e recebeu algumas visitas, posou para fotos e depois foi descansar.

Valeu Jonas! Que bom que eu estive hoje aqui para aprender com você!

2 comentários:

  1. "E mais uma vez voluntário vira aprendiz das crianças na pediatria do Hemorio." - Acho que é isso que a gente faz toda vez que veste a camisa azul do projeto. Vira aprendiz desses pequenos, que se mostram sempre tão grandes.
    Belo texto, Lívia!

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  2. Que bom que te estimulei a escrever a sua bela experiência com o menino Jonas. É a nossa criatividade e boa vontade que conseguimos
    vencer esses desafios. E conseguimos arrancar alegria das crianças e dos pais.
    ótima experência, né Lívia?

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